segunda-feira, 11 de maio de 2020

Antologia Poética quarenta em quarentena


A Antologia Poética quarenta em quarentena é composta por poemas, entre inéditos e publicados, de 40 autores Norte-rio-grandenses. Abrimos, aqui, um parêntese para responder ao seguinte questionamento: o que é um escritor potiguar? Tal qual é consenso entre os pesquisadores do nosso Estado, escritor potiguar é todo aquele que, nascido ou não no RN, contribui ou contribuiu, através da sua obra, com o crescimento e fortalecimento da literatura local.

A referida coletânea, em seu conteúdo, perpassa por temas que dialogam com o atual distanciamento social resultado da pandemia que estamos vivendo. Melancolia, tristeza e esperança são composições que se inserem no eixo do material.

Todo o livro foi realizado através de apoio recíproco. Assim, capa, diagramação e textos foram confecionados em ato de solidariedade e, por conseguinte, a própria antologia está sendo distribuída, em formato de e-book, gratuitamente.

Acreditamos que com a proposta consigamos, além de dialogar com valores nossos, contribuir com a democratização do acesso à literatura potiguar em um cenário de pandemia, onde a cultura se faz ainda mais necessária e é amplamente consumida.


Para download, clique aqui.

sábado, 16 de junho de 2018

Novos Contos Potiguares

LINK ORIGINAL: AQUI.

Junto à Trairy Books, Thiago Jefferson Galdino produziu uma interessante reunião da nossa atual produção literária em prosa. Uma reunião de contos que apresenta um panorama vasto da nossa ainda aparentemente reduzida gama de prosadores.

Chamam atenção, acima de todos, os contos de Nivaldete Ferreira. Coloco-a em primeiro pois seu inesperado ‘Realinoia’ exprime a fluidez e a imaginatividade que fazem uma leitura imersiva, que conduz narrativa adentro, imprevisível e cativante. Bem escrito, sem arroubos lesos de erudição e carregado de sincera autenticidade lírica.

Depois, François Silvestre. Em segundo porque dele já podíamos esperar coisa boa. Senhor do seu texto, François cavalga suas palavras com desenvoltura e apresenta um conto afiado como uma navalha. E em terceiro, aquele que pode ser considerado nosso maior escritor vivo: Nei Leandro de Castro.

Vale a pena mencionar a criatividade desbragada de Rubens G. Nunes, com seu Uiskmeditation (e seu permanente auge experimentalista); Daniel Liberalino, já nosso conhecido pela verborragia labiríntica, truncada e erudoexibicionista; e Carlos Fialho que… bem, autonomeia-se ‘O Fiasco’.

Para além dos méritos e opróbrios, Novos Contos é obra leve e valiosa, cuja leitura é fortemente recomendada. Dá-se cabo do livro, sem pressa, numas três sentadas. E assim, passamos a conhecer o que de melhor (ou não tão melhor) tem se realizado entre as veredas paquidérmicas deste estado. E por conhecer quem nela e dela escreve, acabamos por conhecer melhor a realidade que nos circunda.


Autor: Raul Pacheco.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Entrevista com o escritor Daniel Násser no Ligados FM

LINK ORIGINAL: AQUI.

Daniel Násser nasceu em Macau/RN, no ano de 1985. Filho de uma família de pequenos comerciantes, iniciou os estudos tardiamente, aos seis anos. Adquiriu rapidamente capital intelectual e demonstrou grande desenvoltura nos estudos, pois, apesar do precário ensino na comunidade de Diogo Lopes, ao fim do mesmo já sabia ler, isso de forma muito acima da média. Permaneceu até o 6º ano frequentando as escolas do município. No ano seguinte recebeu uma bolsa de estudos no Centro de Educação Integrada Monsenhor Honório, aonde veio a finalizar os estudos. Foi neste período que descobriu sua paixão pela arte de contar estórias, desenvolvendo algumas criações voltadas para os quadrinhos macauenses, mas sem conseguir êxito. Após a conclusão de seu curso Técnico Contábil, ingressou no ano seguinte na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, no curso de Administração. Desta época também provém seu primeiro romance (ainda não publicado) “A Hora das Fadas” (2001), que foi o responsável pelo surgimento da amizade entre o autor e seu principal incentivador, Benito Barros. Trabalharam para a construção deste livro, mas sua publicação se tornou inviável, devido à falta de apoio para as artes na cidade. Násser passou a trabalhar em um novo romance, mais amadurecido do que o de outrora, e contando com o apoio de Marc Alfons Adelin Ghijs, médico e advogado, além de Benito e Getúlio Moura, o autor lançou, depois de um hiato de seis anos, “A Ordem da Rosa Branca: O Enigma do Anel” (ICEC, 2007), a primeira parte de uma trilogia que esta sendo construída e alicerçada com muito estudo e pesquisa bibliográfica, a qual o autor tem se dedicado nos últimos três anos. Recentemente tem mantido um blog de textos diversos, o Sub Rosa, onde publica seus próprios escritos, além de outros autores, com ênfase nos Macauenses, tanto os ilustres como os desconhecidos. Colaborou com a revista virtual Terrorzine na edição de número 26, com o conto “Notas de um naufrágio”, e trabalhou como editor do Livro “Insight”, do poeta José Ribamar da Silva Filho.

O autor Daniel Násser

Ligados: Quem é Daniel Násser? 

Daniel Násser: Inicialmente uma pessoa criada para resguardar o autor das consequências de sua arte. Posteriormente, ganhei um espaço maior do que o planejado, chegando em alguns momentos a eclipsar a minha pessoa (risos). Um artista em busca de uma verdade, de um mundo idealizado que existe na sua mente, um sonho que se desfaz e se refaz todos os dias. 

Ligados: Fale um pouco sobre o seu livro “A Ordem da Rosa Branca – O enigma do Anel”, lançado pela Imperial Casa Editora da Casqueira. 

Daniel Násser: "A Ordem da Rosa Branca – O Enigma do Anel" foi (e ainda é) uma empreitada arriscada e desafiadora. Um complexo encontro de personagens de vários romances da literatura fantástica (esta ainda tão subvalorizada pelos autores da chamada “elite”), passado numa Macau histórica e mítica, com ilustres habitantes da cidade e muito mistério. É a primeira parte de uma trilogia que estou dando continuidade no momento (lentamente, diga-se de passagem) e que exige de mim uma quantidade de estudo bibliográfico muito grande. 

Ligados: Como você conheceu a literatura? Houve algum acontecimento especial em sua vida que o fez criar enorme apreço pelas letras? 

Daniel Násser: A literatura veio a mim de forma tardia. Havia lido um único livro quando completara meus 15 anos. “Vinte Mil Léguas Submarinas”, de Jules Verne. Então uma professora de redação atiçou minha curiosidade sobre um romance nacional que envolvia uma traição não esclarecida (e que segundo ela, cada qual entendia de uma forma). Comecei a ler “Dom Casmurro” na mesma semana e nunca mais parei de ler. Sempre digo que eu, tal qual Bentinho, fui enfeitiçado pelos olhos de ressaca de Capitu. (Risos). 

Ligados: Como você enxerga o mercado editorial brasileiro, principalmente sendo um novo autor em busca de um lugar ao sol? 

Daniel Násser: O mercado editorial brasileiro possui muitas trincheiras para os novos autores. As grandes editoras não querem arriscar investir em algum desconhecido (mesmo que o material apresentado por ele tenha qualidade), preferindo produzir obras de autores já conhecidos ou nichos que notoriamente atingem uma massa da população bem maior, seja por qual motivo for. Então a nós, iniciantes, resta o amparo das pequenas e independentes editoras que se arriscam em publicar novos trabalhos e autores. A tendência é que vá mais e mais se afunilando e que mais gente boa se perca por falta de oportunidade. 

Ligados: A internet é uma aliada quando o assunto é divulgação? 

Daniel Násser: A internet é, com certeza, uma ferramenta que facilita, e muito, a divulgação de nosso trabalho. Seja a publicação de pequenos textos em blogs e redes sociais, seja divulgação de lançamentos e eventos relacionados. No último evento que foi realizado pela ICEC (Imperial Casa Editora da Casqueira) nós conseguimos uma divulgação excelente via redes sociais e afins e uma boa participação popular no lançamento dos livros “A Torre Azul” (Horácio Paiva), “20 Sonetos Impuros e Outros Poemas” (Alfredo Neves) e “A Guerra da Coréia” (Benito Barros). 

Ligados: Como é sua rotina para criar? Escreve somente quando a ideia surge ou há uma espécie de preparação? 

Daniel Násser: As ideias, estas traiçoeiras companheiras que surgem do nada e para ele voltam! (risos). Um grande amigo e poeta por quem nutro uma admiração muito grande, Getúlio Vargas M. Barros, me disse uma vez que uma ideia quando surge deve ser agarrada com todas as forças, pois elas se perdem com a mesma facilidade com que surgem. Algumas ideias têm este aprisionamento ao instante e outras não, outras devem ser trabalhadas, estudadas e reescritas muitas e muitas vezes antes de serem consideradas dignas de serem lidas. 

Ligados: Em sua opinião, é possível viver de literatura em nosso país? 

Daniel Násser: Nem mesmo sobreviver! (risos). Para se viver de arte no nosso país, seja ela qual for, é preciso ser uma das grandes e ilustres pessoas do cenário, para que este espaço possa se manter aberto, em expansão ou pelo menos que proporcione alguma estabilidade. 

Ligados: Como você recebe as críticas em relação a sua obra? 

Daniel Násser: Eu tento absorver as críticas da melhor maneira possível. É claro que não é nem um pouco agradável ler alguém que esmiúça seu trabalho e aponta seus erros, suas falhas. Se isso for feito de uma forma a engrandecer seu trabalho futuramente, agradeço aos autores destas críticas. Mas se estas críticas vierem de forma a denegrir o meu trabalho e sem acrescentar nada, procuro não levar em conta. 

Ligados: Quais os teus planos daqui para frente? Um segundo volume do “A Ordem da Rosa Branca” pode ser ambientado, ou está focado em outros projetos no momento? 

Daniel Násser: Como já falei anteriormente, existe todo um trabalho sendo desenvolvido em torno de um novo volume de “A Ordem da Rosa Branca”, que procura beber mais na fonte da literatura fantástica nacional (sim, ela existe!). Autores como Machado de Assis possuem diversos contos na área e que são pouco divulgados, frequentemente esquecidos em suas antologias. Há algum tempo tenho me dedicado ao trabalho de editor. Nesta função, já produzi o livro “Insight” (ICEC, 2012), de José Ribamar da Silva Filho, e atualmente estou trabalhando em um projeto que aguardei durante muito tempo: “Metamorfoses”, de Aldenira de Oliveira. Esta é realmente uma fantástica poetisa, até o momento inédita, e que merece ser conhecida por quem gosta de uma boa poesia.

Perguntas rápidas: 
Autor(a): Gabriel Garcia Márquez;
Ator(Atriz): Fernanda Montenegro; 
Cantor(a): Elis Regina; 
Música: Todas do Chico Buarque;
Filme: “Casa de Areia”. 

Links na internet: 

Ligados: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

Daniel Násser: Gostaria de agradecer a oportunidade de poder falar um pouco do trabalho que venho desenvolvendo ao longo desta minha jornada. Parabenizar a vocês por este trabalho de valorização e estímulo da cultura da nossa região, que é sempre muito importante.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 08/02/2013 - Objetivo: www.ligadosfm.com

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Entrevista com o escritor Alexandre Lobão no Ligados FM

LINK ORIGINAL: AQUI.

Alexandre Lobão, nascido no Rio de Janeiro em 1969, é um dos escritores do Instituto Casa de Autores, ONG criada para estimular a leitura no Brasil. Com uma produção bastante eclética, publicou um romance (“O Nome da Águia”), um livro de contos (“A Caixa de Pandora e outras histórias”), um infantojuvenil (“Uhuru”) e um livro infantil (“A Verdadeira História de Papai Noel”), além de figurar em nove coletâneas, cinco delas oriundas de concursos literários. 

Programador de jogos de computador, o autor escreveu também diversos livros técnicos sobre o assunto, sendo que seis deles foram lançados nos Estados Unidos e o último foi também publicado em português. 

Além de literatura, Lobão transita em outras mídias, tendo produzido diversos roteiros para quadrinhos, cinema e animação.

O autor Alexandre Lobão

Ligados: A pergunta base de todas as entrevistas: Quando surgiu o seu interesse pela literatura e em quais circunstâncias a escrita se profissionalizou em sua vida? 

Alexandre Lobão: Eu sempre fui um leitor ávido, e tive sorte de nascer em uma família que tinha muitos livros. Assim que aprendi a ler, entre seis e sete anos, devorei a coleção de livros infantis que meus pais tinham, com cerca de 50 livrinhos de contos clássicos. Até o fim daquele ano eu havia acabado com uma segunda coleção de contos, estes para crianças maiores, também com 50 livrinhos; e então parti para a coleção de clássicos da literatura universal. Meu primeiro livro de verdade foi “A Ilha do Tesouro”, de Robert Louis Stevenson. Lembro perfeitamente de minha mãe perguntando se o livro não era “grande demais para mim”, e eu respondendo que, se eu gostava, o tamanho não interessava. 

Quando eu tinha nove anos, a professora de português da quinta série usou uma de minhas redações como texto para uma prova da escola, e acho que foi neste momento que nasceu em mim a vontade de escrever. Aos poucos fui escrevendo histórias curtas, que apareceram em jornais de escolas e outros lugares, e que desembocaram em meu primeiro livro, “A Caixa de Pandora”, quando eu já estava na casa dos 30 anos. 

Quanto à “profissionalização”, eu comecei a procurar outros escritores e fazer parte de associações da classe quanto tinha vinte anos, mas acredito que minha profissionalização só começou com este primeiro livro, quando percebi que não me bastava ser “escritor de fim-de-semana”, eu queria aprender os meandros da arte, conhecer as técnicas que faziam você não querer desgrudar de um livro, entender os detalhes do mercado editorial que pudessem me ajudar a conseguir uma editora... Uma longa história! 

Ligados: Analisando um pouco a sua biografia, percebe-se que você possui uma produção bastante eclética, tendo publicado diversos livros literários e técnicos, além de transitar em outras mídias escrevendo roteiros para quadrinhos e até mesmo cinema. De onde surge tanta inspiração? Todos os gêneros são prazerosos de se criar? 

Alexandre Lobão: Eu não acho que eu tenha mais inspiração que qualquer pessoa; o que talvez aconteça é que eu aproveite melhor as ideias que me vêm. Algumas ideias aparecem prontas, na forma de uma história completa, como foi o caso do conto “Memórias de um soldado em Canudos”, de meu primeiro livro. Eu estava dirigindo quando de repente a ideia me veio, como se diz, “do nada”. Parei o carro no acostamento e escrevi os pontos principais da história em uma página ou duas; para não perder nada, e mais tarde passei a limpo. Outras ideias vão crescendo aos poucos; a ideia que deu origem ao livro “O Nome da Águia”, por exemplo, só após três anos de pesquisas é que ela se consolidou na forma final da trama do livro – então, gastei mais um ano e meio escrevendo. Acho que o fato de eu nunca esquecer uma boa ideia ajuda, elas ficam germinando na cabeça até estarem prontas para serem transcritas. 

Quanto aos gêneros, tenho um carinho especial pelas histórias que tem um “quê” de fantástico; acredito que do dia a dia já temos muitos nos jornais, quando escrevo quero falar o extraordinário, das coisas que fogem à nossa percepção usual. Mesmo quando escrevo histórias mais usuais, em qualquer gênero, busco incluir algo excepcional, nem que seja na emoção ou na forma de ver a vida dos personagens. 

Ligados: Aproveitando o assunto, entro em um questionamento que divide opiniões há muito tempo: História em quadrinhos é ou não é literatura? 

Alexandre Lobão: Não, obviamente Histórias em Quadrinhos não são literatura, da mesma forma como cinema não é literatura. São artes diferentes, embora todas estejam muito associadas. O que devemos lembrar é que há formas de contar histórias que só funcionam nas HQs, da mesma forma como há formas que só funcionam nos cinemas e outras que só funcionam na literatura. Quem duvida, basta conferir as páginas que incluem a história-dentro-da-história do “Cargueiro Negro”, dentro de “Watchmen”: o leitor vê uma história e ‘escuta’/lê os sons da outra, em quadrinhos entremeados... Estas e outras coisas do gênero só funcionam nos quadrinhos. E quanto a quadrinhos poderem ser “arte nobre” ou para adultos, acho que isso ficou estabelecido quando “Maus”, uma HQ de Art Spiegelman sobre a vida de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, ganhou o prêmio Pulitzer em 1992. 

Ligados: Quais os títulos publicados até o momento? 

Alexandre Lobão: Bom, além da participação em nove coletâneas de contos (sendo cinco delas por premiação em concursos), publiquei “A Caixa de Pandora e Outras Histórias”, com nove contos na versão impressa e 13 contos na versão para Kindle; “A Verdadeira História de Papai Noel”, um livro infantil baseado na história que inventei para que minha filha não perdesse a “magia do Natal” quando ela perguntou se o Papai Noel existia de verdade; “Uhuru”, um infantojuvenil contado em dois tempos, no passado e no presente, com a história de um menino que descobre as origens de seu nome (Uhuru); e “O Nome da Águia” (WWW.oNomeDaAguia.com), um romance de ação com larga pesquisa histórica, escrito no estilo dos thrillers americanos de leitura rápida, mas com a pitada de fantástico que gosto de incluir nas histórias. 

Fora estes, há os livros técnicos: foram seis livros sobre programação de jogos de computador publicados nos Estados Unidos, sendo que o último deles foi traduzido para o português. 

Ligados: Qual o objetivo cultural da ONG Casa de Autores, da qual você faz parte como escritor? 

Alexandre Lobão: A Casa de Autores foi fundada por escritores e professores com o objetivo de estimular a leitura no Brasil, organizando eventos literários e realizando palestras e oficinas em escolas, entre outras atividades. Nesta linha, já organizamos quatro edições da Flipiri, a Feira Literária de Pirenópolis, além de diversas outras feiras literárias em cidades próximas a Brasília, onde fica nossa sede. 

Ligados: Depois de ter sido selecionado em diversos concursos literários, você também figurou como jurado em alguns certames, incluindo o SESC-DF de contos infantis em duas de suas edições, e de contos adultos em duas outras. Com a subjetividade em jogo, é correto afirmar que os melhores trabalhos são, realmente, os que vencem? 

Alexandre Lobão: O problema da questão é: o que significa ser “melhor”, quando se falando em contos? Alguns concursos sugerem critérios de avaliação (desde a correção ortográfica até a coerência e originalidade da história), o que ajuda um pouco, mas sempre há um largo espaço para a subjetividade. 

Obviamente, já avaliei contos que me pareceram excelente e não chegaram a ficar entre os escolhidos, e já vi contos que julgava serem fracos ficarem nos primeiros lugares, mas como são vários jurados, os que vencem são os contos que parecem ser os melhores para mais jurados, então sou forçado a crer que há certa justiça na escolha dos vencedores. 

Ligados: Você possui um blog chamado “Vida de Escritor”, repleto de dicas para autores, principalmente os mais novos. Em sua opinião, qual a informação mais preciosa que um aprendiz de escritor precisa ter? 

Alexandre Lobão: Pergunta difícil! Inclusive, em meu blog tenho uma coleção de postagens com o título “7 coisas que aprendi”, onde escritores convidados contam as sete coisas que acham ser mais importantes para um escritor; e mesmo sendo sete, ainda assim escuto muita reclamação que “sete é pouco”! 

Mas se eu precisasse escolher uma só coisa para um aprendiz de escritor, eu escolheria duas: primeiro, deixe o orgulho de lado e nunca julgue saber tudo. Na escrita, como em qualquer outra profissão, estudar técnicas VAI tornar seu trabalho melhor. E, também, em primeiro lugar, persista. Escrever é divertido, mas é um trabalho. Escreva sempre, não desista frente aos problemas (que serão muitos, posso garantir), que um dia você chega lá. 

Ligados: Quais as suas aspirações em longo prazo? 

Alexandre Lobão: Tenho algumas metas a atingir na área de cinema e quadrinhos, mas minha maior aspiração continua sendo viver apenas do meu trabalho de escritor, sem necessidade de um segundo emprego. 

Ligados: Existem livros inéditos na gaveta? 

Alexandre Lobão: Alguns, na verdade, pois sempre escrevo mais de um livro ao mesmo tempo. Tenho quatro livros infantis prontos, que escrevi de um rompante ano passado, e um romance que adorei escrever e que tem o título de trabalho “As Incríveis Memórias de Samael Duncan”, a história de um senhor de 130 anos de idade (embora isso não fique explícito no livro) que vai recordando partes de sua vida enquanto escreve suas memórias. Cada capítulo é uma história que parece isolada, mas que aos poucos permite ao leitor montar um panorama da vida do personagem e entender qual é o seu grande anseio. O problema é que, ao escrever suas memórias, Samael acaba descobrindo segredos de seu passado que o levam a questionar se sua vida inteira não foi baseada em uma mentira, e aí a coisa começa a ficar ainda mais animada... Mas deixemos as surpresas para quando o livro sair!

Perguntas rápidas: 
Autor(a): Stephen King;
Ator(Atriz): Johnny Deep; 
Banda: Eurythmics;
Música: “Souvenir de Paganini”, de Choplin, e “Dancing in the Dark”, de Bruce Springsteen;
Filme: “Imensidão Azul”. 

Links na internet: 
Twitter: @AlexandreLobao; 
Outros: Blog “Vida de Escritor”: http://dicasdoalexandrelobao.blogspot.com

Links dos seus produtos nas lojas online: 
Saraiva: Aqui;
Submarino: Aqui;
Cultura: Aqui.

Ligados: Considerações finais. 

Alexandre Lobão: Bom, acho que falei até demais! Apenas gostaria de agradecer pelo convite e a oportunidade de entrar em contato com todos que acompanham o Ligados. 

Além disso, gostaria de lembrar que estou à disposição de todos para esclarecer dúvidas em meu blog,HTTP://DicasDoAlexandreLobao.blogspot.com

Saúde, paz e sucesso a todos!


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 25/01/2013 - Objetivo: www.ligadosfm.com

Entrevista com o escritor Dan Albuk no Ligados FM

LINK ORIGINAL: AQUI.

Dan Albuk (nome artístico de Daniel Albuquerque) nasceu no Rio de Janeiro em 1988, e desde sempre teve enorme fascínio por histórias fantásticas, de aventura, suspense e terror. Na época do colegial escrevia contos que eram imediatamente proibidos pelos professores pelo conteúdo sinistro e fantasmagórico.

Fã de livros de Stephen King, Joe Dever, William Peter Blatty e J. R. R. Tolkien, formado em Game Developer e apaixonado por filmes e músicas, Dan tem uma escrita cativante, que prende o leitor com ganchos afiados a cada página virada, prometendo uma leitura profunda e divertida pelas entranhas de sua imaginação. É autor do best-seller "Lerulian" (Novo Século) e lançará em breve, pela Fantasy, o romance "Sobrepulso".

O autor Dan Albuk

Ligados: Logo no início, você costumava escrever as suas redações de forma violenta e fantasmagórica, o que fazia com que as mesmas viessem a ser censuradas na época do colegial pelas freiras que as avaliavam. O que você tem a dizer sobre este período? 

Dan Albuk: Desde pequeno sempre gostei muito de filmes, livros e jogos de suspense e terror, e estes sempre tiveram bastante influência nos meus textos. Na época da escola não foi diferente. Contudo, nunca fui de escrever horror. Nos meus textos, a violência só é algo a mais e não o assunto principal. Uma pitada de tempero de realidade. Acontece que, quando este "tempero" é adicionado em uma redação da escola, a qual é comandada por freiras fervorosas, você imediatamente é visto com outros olhos. 

Na época, inclusive, fui chamado à diretoria para responder se estava tendo problemas em casa. Obviamente, a resposta foi negativa. Crianças com muita criatividade e imaginação costumam sofrer nesta época. 

Ligados: Apesar da pouca idade, você já trabalhou como professor de desenho, figurante, operador de caixa, vendedor e até entregador de DVDs. O que te fez parar e reavaliar os caminhos que estava tomando em sua vida, até encontrar a estrada literária? 

Dan Albuk: A grande maioria passa por isto em uma determinada época da vida. Normalmente acontece após a conclusão do ensino médio. Você vê todos os seus amigos fazendo vestibular, entrando na faculdade, super animados para começarem a estudar novamente. Desta vez, estudar o que realmente importa. O que escolheram para o resto da vida. Eu, por outro lado, não tinha ideia do que iria fazer. Mas tinha certeza do que não queria. Direito, engenharia, medicina, comunicação e educação física foram cortados logo de cara. 

Enquanto eu pensava no que faria da vida, arrumava uns bicos por aí. Nunca fui de pedir as coisas, então sempre arrumei um jeito de colocar dinheiro no bolso honestamente. 

Sempre fui ligado à arte. Corre nas minhas veias. Então eu sabia que o caminho que teria que percorrer seria por ali. 

Bem, indo direto ao assunto, comecei a escrever por um simples fato: Cinema é caro. Se eu tivesse grana na época, teria cursado cinema. Ainda hoje pretendo me aprofundar nesta área. Sou completamente apaixonado pela sétima arte. 

Acontece que, na literatura, não existe limite. Não existe essa de "precisa ter grana". Com um papel e caneta mundos podem ser construídos, batalhas podem ser travadas e o impossível pode ser feito. Não é necessário dinheiro, atores, cenários e nem efeitos especiais. 

Por esta razão escolhi a carreira de escritor. Para a mágica acontecer, só basta uma mente fértil e um lugar quieto para escrever. 

Ligados: Como surgiu a ideia para a criação de Lerulian, seu livro de estréia pela Novo Século? 

Dan Albuk: Lerulian nasceu graças à matemática. Se não fosse por esta matéria, talvez minha vida tivesse sido diferente. 

Vamos esclarecer uma coisa: Eu detesto matemática. Sou uma negação total. Mas foi ela quem me deu a ideia do universo de Lerulian. 

A maioria das aulas de matemática eu passava desenhando. Mas depois de inúmeros anos somente no desenho, a prática começou a ficar chata. Então resolvi criar uma história para todas estas criaturas que rompiam do papel durante os ensinamentos numéricos. Fiz a fauna, flora e o mundo. Quando vi que o resultado estava ficando bacana, resolvi escrever um livro sobre uma das centenas de aventuras que aconteceram naquele universo. 

Obrigado, matemática. Eu te odeio, mas obrigado! 

Ligados: Lerulian foi desenvolvido com muito estudo a respeito da fauna, flora, medicina em batalhas, formações primitivas de exércitos e até lendas indígenas brasileiras. Um livro paralelo com estes universos descritos de forma mais detalhada poderá surgir no futuro? 

Dan Albuk: Sim, sem dúvida. Tanto o universo de Lerulian quanto o de Sobrepulso são muito grandes e complexos. 

Tenho cadernos e centenas de anotações, desde a origem do mundo até a época atual. 

Muitos segredos estão nas entrelinhas, mas somente os mais atentos irão perceber. 

Ligados: O assédio dos fãs, como você lida com isso? Aproveitando, qual foi a sensação ao lançar a obra? 

Dan Albuk: Adoro qualquer tipo de aproximação da galera que curte o meu trabalho. Afinal, se não fosse por eles, não estaria onde estou agora. Só tenho a agradecer. 

Como detesto estrelismo, o que infelizmente tem muito nesta profissão, sempre converso e respondo todas as perguntas, e-mails e mensagens, independente da pessoa. Pode demorar um pouco, já que às vezes o tempo fica apertado, mas sempre dou um jeitinho de atender todo mundo. 

Lançar a obra foi um alívio. Estava louco para receber o feedback do pessoal, as críticas e as resenhas. Para mim, a história que escrevo não é uma moeda. É uma forma de comunicação com outras pessoas. Uma porta aberta diretamente para minha cabeça. Um mundo onde os leitores possam viajar e esquecer-se dos problemas diários. 

Se eu pudesse, eu colocava de graça para o pessoal ler. Mas, infelizmente, não nasci em berço de ouro e tenho que ganhar o pão para colocar no prato. Caso contrário, escreveria somente pelo simples prazer de escrever e ficaria satisfeito somente com a reação dos leitores. 

No final das contas, é isso o que realmente importa. 

Ligados: Haverá continuação de Lerulian, ou o foco principal passou a ser a obra “Sobrepulso”, já que você está agora escrevendo para a Fantasy? 

Dan Albuk: Atualmente, meu foco está no Sobrepulso, mas de nenhuma forma pretendo abandonar a série Lerulian. O Vol. 2 já está sendo escrito, com muito carinho e dedicação. 

Sobrepulso tem me dado um trabalhão. É o trabalho mais difícil e ousado que já fiz, justamente por abordar uma área nova na literatura fantástica. Estou fazendo de tudo para ser uma viagem inesquecível para vocês! Não vejo a hora de ver a reação da galera! 

Ligados: O que te inspira? 

Dan Albuk: Música, filme, game, sexo e amor. 

Ligados: Que autor você mais gostou de ler na infância, e qual nunca mais voltaria a ler? 

Dan Albuk: De longe o autor que mais li quando criança foi o mestre Stephen King. Virava a noite lendo os livros e contos. O meu preferido era "Sombras da noite". Até hoje me lembro de todas as histórias. 

Sempre li o que me interessou. Não sou de pegar livros que sei que não vou curtir. Então a minha lista de "autores que nunca mais voltaria a ler" não existe. Até por que, “nunca” é uma palavra forte demais. 

Ligados: Qual dica você daria aos novos escritores? 

Dan Albuk: Não há muito o que falar além do óbvio. A dica é seguir em frente. Sempre! Se você confia no seu trabalho e talento, desligue a audição e siga a estrada escolhida. A maioria das pessoas irão te empurrar para baixo. Talvez não por mal, mas por medo do futuro. Mas o que é a vida se não uma sucessão de erros e acertos? 

O negócio é sempre ter o amor pelo que você faz aceso dentro do peito. Fazer por fazer, somente para agradar, ser famoso ou ser bem visto não rola. Faça por amor. Faça com afinco e dedicação que um dia, quando menos esperar, tudo irá começar a se encaixar. 

Não trate como sonho e sim como um objetivo que fica mais perto a cada letra digitada. 

Perguntas rápidas: 
Autor(a): Stephen King;
Ator(Atriz): Tom Hanks; 
Banda: Queen;
Música: Bohemian Rhapsody;
Filme: O poderoso chefão. 

Links na internet: 
Facebook: Dan Albuk;
Twitter: dan_albuk;

Ligados: Deseja encerrar com algum comentário? 

Dan Albuk: Foi um enorme prazer responder a esta entrevista e espero que o site cresça cada vez mais. 

Quem quiser bater um papo, tirar uma dúvida ou saber um pouco mais sobre o meu trabalho, é só visitar danalbuk.com ou procurar no Facebook (Dan Albuk) e no Twitter (Dan_Albuk). 

Um grande beijo!


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 11/01/2013 - Objetivo: www.ligadosfm.com

Entrevista com o escritor Roniwalter Jatobá no Ligados FM

LINK ORIGINAL: AQUI.

Roniwalter Jatobá nasceu em 22 de julho de 1949 em Campanário, Minas Gerais. Aos dez anos foi morar em Campo Formoso, Bahia, onde concluiu, em 1964, o curso ginasial. Em 1970, foi para São Paulo. Trabalhou como operário na Karmann-Ghia, no ABC, enquanto morava ao lado da Nitroquímica, em São Miguel Paulista. Entrou para a Editora Abril no final de 1973, na área gráfica, e cinco anos depois, formou-se em jornalismo. Foi redator das publicações infantojuvenis desta editora e da Rio Gráfica (hoje Globo) e colaborou em Versus, Folha de S. Paulo, Movimento, Escrita, Ficção e outros. No final dos anos 70 viveu sete meses na Europa, num exílio voluntário. De volta ao Brasil foi redator do Nosso Século, editor de textos do Movimento e Retrato do Brasil (fascículos), editor executivo de Saúde, Boa Forma e de publicações especiais da revista Corpo a Corpo; criou e dirigiu ainda a revista Memória e editou livros históricos na Eletropaulo. Entre 1997 e 2003, atuou também como cronista semanal do jornal paulistano Diário Popular. 

Publicou, entre outros, os livros Sabor de química (contos, 1977, Prêmio Escrita de Literatura), Crônicas da vida operária (contos, 1978, finalista do Prêmio Casa das Américas, em Cuba), Viagem à montanha azul (infantil, 1982), O pavão misterioso e outras memórias (crônicas, 1999, finalista do Prêmio Jabuti), Paragens (novelas, 2004, finalista do Prêmio Jabuti), Trabalhadores do Brasil: histórias do povo brasileiro (contos, 1998, organizador). Pela editora Nova Alexandria, publicou Rios sedentos (2006), voltado para o público infantojuvenil, Contos Antológicos (2009), Cheiro de chocolate e outras histórias (2012) e, para a coleção “Jovens sem fronteiras”, O jovem Che Guevara (2004), O jovem JK (2005), O jovem Fidel Castro (2008), O jovem Luiz Gonzaga (2009) e O jovem Monteiro Lobato (2012). Publicou ainda dois livros pela Editora Positivo: Viagem ao outro lado do mundo (infantil, 2009) e Alguém para amar a vida inteira (novela juvenil, 2012). 

Seus contos foram ainda incluídos em diversas antologias brasileiras e estrangeiras, com traduções para o alemão, inglês, sueco e italiano. Em 1988, traduziu o livro de contos “A cavalaria vermelha”, de Isaac Babel, editado pela Oficina de Livros.

O autor Roniwalter Jatobá

Ligados: Como e quando aconteceu o seu primeiro contato com a literatura? À época, já imaginava que se tornaria um escritor? 

Roniwalter Jatobá: Acho que dois fatores importantes me fizeram arriscar na literatura: Muita leitura e vivência. Nasci em Campanário, Minas, em 1949. Meus pais eram baianos, estavam ali desde o final da Segunda Grande Guerra (1939-1945), quando buscaram o norte mineiro para tentar a sobrevivência. Eram tempos difíceis, época de desbravamento de uma inóspita região. Quando começou a chegar o progresso, por exemplo, o asfaltamento da Rio-Bahia, minha família voltou para o sertão baiano nas proximidades da cidade de Campo Formoso. E essa volta foi importante para mim. Vivendo na casa de um tio, entrei num colégio protestante para fazer o ginásio e, aí, a descoberta da literatura. Nesta pequena cidade, por sinal, havia um oásis cultural. Nunca me esqueço: os jovens, na grande maioria, brigavam para ver quem ia ler primeiro as novidades literárias que chegavam de Salvador. Havia ali um advogado e professor de geografia, Domingo Dantas, que colecionava livros autografados de autores brasileiros. Tinha todo mundo. Ele mandava buscar no Rio de Janeiro. Naquela época, e durante quatro anos, nos esbaldamos de ler Graciliano Ramos, José Lins do Rego e muita prosa americana. Em 1964, terminei o ginásio, mas meu pai não tinha condições de me enviar para Salvador para continuar os estudos. 

Com quinze anos, a minha perspectiva era trabalhar na roça ou ajudar meu pai, que possuía um velho caminhão. O trabalho era agradável e me sobrava muito tempo. Enquanto meu pai cuidava dos negócios nos pequenos lugarejos, eu lia. Foi aí que conheci quase todos os títulos da pequena biblioteca de Campo Formoso e travei conhecimento com os textos de Dostoievski, Gogol, Kafka e muitos outros. 

Depois de servir o Exército em Salvador, vim para São Paulo. Era início de 1970. Trabalhei de ajudante de almoxarifado na Karmann-Ghia, no ABC. Em 1973, saí e entrei na Abril, como apontador de produção na gráfica. A partir daí, auxiliado pela empresa, fiz supletivo colegial e, depois, pude me formar em jornalismo. Foi na escola que comecei a escrever os primeiros trabalhos. Eram contos e, em todos eles, o cenário era a periferia paulistana ou os dramas dos migrantes. Virei, então, escritor e jornalista. Enquanto trabalhava em Versus, Movimento e publicações da Abril, continuei a escrever. Aí, um dia, mandei um conto para a revista Ficção, no Rio, e outro para a Escrita, em São Paulo. Ganhei os dois prêmios e não parei mais. 

Ligados: Existe algum autor que te influencia na escrita? 

Roniwalter Jatobá: Os escritores acabam sempre influenciados pelas suas leituras. Gosto muito da prosa russa do século 19 e a literatura brasileira de meados do século 20, que inclui Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. Busco, no entanto, a minha maneira de narrar. Escrevo devagar. Sigo sempre o conselho de Otto Maria Carpeaux, que dizia que o estilo é a escolha do que deve ficar na página escrita e o que deve ser omitido. É a escolha entre o que deve perecer e o que deve sobreviver. Na literatura é preciso muita paciência até encontrar o tom e o ritmo certos. 

Ligados: Dentre os seus mais de quinze livros, há algum pelo qual possui maior apreço, ou seria como escolher o melhor filho? 

Roniwalter Jatobá: Todos são importantes. Mas fico feliz quando acho que criei um bom livro para jovens. Há escassez de bons textos para o público jovem. Num limbo entre o leitor adulto e o infantil, os jovens sentem falta de bons textos, aqueles que deveriam mostrar como é viver num momento de formação da sua personalidade. Até acho que os bons escritores deveriam dedicar um pouco de seu tempo para escrever para jovens. Numa crônica na Folha de S. Paulo, o poeta Nelson Ascher comenta sobre uma das responsabilidades sociais do escritor, que é a de também formar novas gerações de leitores. 

Ligados: Me parece que este ano foi bastante produtivo em relação aos seus lançamentos. Você publicou os livros “Alguém para amar a vida inteira”, “Cheiro de chocolate e outras histórias” e “O jovem Monteiro Lobato”. De forma breve, poderia nos falar a respeito de cada um? Como ocorre o seu processo de criação literária que, espetacularmente, produz tanto texto em tão pouco período de tempo? 

Roniwalter Jatobá: O ano de 2012 foi realmente produtivo em relação a lançamentos. Mas, embora os três livros tenham sido editados ao mesmo tempo, em cada um deles houve um trabalho individual, cada um à sua maneira. “O jovem Monteiro Lobato”, que faz parte da coleção “Jovens sem fronteiras” da Editora Nova Alexandria, por exemplo, foi objeto de uma longa pesquisa que durou mais de um ano. Além de buscar informações em livros, revistas e jornais antigos, estive duas vezes na região de Taubaté, no interior paulista, para visitar os lugares percorridos pelo criador do Sítio do Pica-pau Amarelo, um pioneiro e mestre da literatura infantojuvenil no país. Já “Alguém para amar a vida inteira”, editado pela Editora Positivo, é um romance que escrevo e reescrevo há mais de cinco anos, e conta uma história de amor na periferia fabril de São Paulo. Quanto a “Cheiro de chocolate e outras histórias”, este é um livro que revela o meu sentimento de amor e ódio por São Paulo. Afinal, faz quarenta anos que vivo na metrópole e, por isso, os contos mostram a minha relação com a cidade. No primeiro texto, por exemplo, trato com delicadeza a história de antigos namorados que se reencontram na Avenida Paulista, e que recordam de momentos vividos em Paris e dos projetos que tinham juntos. Sobre este livro, o jornalista, escritor e crítico literário Renato Pompeu escreveu que “A literatura sempre avança em relação à mais requintada teoria literária. O principal teórico do realismo crítico, o húngaro György Lukács, julgava que não era possível fazer arte a partir do singular, por não ser universal. Somente a partir do singular-universal, ou seja, a partir do particular, é que seria possível fazer arte. Mas Roniwalter Jatobá, neste livro “Cheiro de chocolate e outras histórias”, prova o contrário. Ele chega a estesias melancólicas e encantadoras, a puros enlevos, a partir de uma feérica feira de singularidades; o conjunto se torna universal.” 

Ligados: Pela editora Nova Alexandria, você publicou cinco volumes de uma coleção chamada “Jovens sem Fronteiras”. As obras são biografias romanceadas de personagens relevantes (ainda que diversificados), seja na política ou nas artes, ou elas se restringem à adolescência dos homenageados, como os próprios títulos acusam? 

Roniwalter Jatobá: A coleção “Jovens sem fronteiras”, da qual fazem parte cinco dos livros que escrevi – O jovem Che Guevara, O jovem JK, O jovem Fidel Castro, O jovem Luiz Gonzaga e O jovem Monteiro Lobato – tem como objetivo contar a infância e a adolescência de pessoas interessantes da história num caldeirão em que se misturam experiências de vida, fatos e, para torná-lo de agradável leitura, uma pitada de ficção. Na verdade, esses livros relatam toda vida do biografado, mas com enfoque maior na infância e adolescência, mostrando como foi a formação dessas figuras e como elas se prepararam para chegar a um momento marcante da história. 

Ligados: Acredito que, antes de você, poucos escritores tenham retratado o proletariado brasileiro sob o enfoque ficcional. Como resultado, os textos possuem forte carga social com certo tom de confissão; um misto entre memória e invenção. Tamanho impacto poderia ter sido provocado caso a sua literatura não fosse fruto de sua vivência como migrante nordestino e operário metalúrgico? 

Roniwalter Jatobá: Sou um dos poucos autores que escrevem sobre o migrante nordestino. Também acho que poucos viveram a experiência operária. Ou seja, viver na periferia e trabalhar numa fábrica. Como já disse anteriormente, leitura e vivência me fizeram seguir por esse rumo na literatura. Por isso, um olhar que já esteve presente em nossa literatura de ficção, sobretudo a partir dos anos 30, e que tanto ajudou na formação de uma consciência nacional. 

Ligados: Nestes mais de trinta anos de atividades literárias, como você classifica o cenário artístico nacional da atualidade? 

Roniwalter Jatobá: Vamos indo. Há coisas boas. O bom do trabalho artístico é que ele precisa de maturação de décadas. Um sucesso momentâneo não quer dizer que certa obra ficará na história. Por isso, não devemos ficar à mercê da glória repentina. Trabalhar é preciso. 

Ligados: Existem projetos em andamento? 

Roniwalter Jatobá: Atualmente, escrevo um romance histórico, cuja história se passa em 1926, na Chapada Diamantina, Bahia, durante a grande saga da Coluna Prestes na região. 

Ligados: Poderia deixar uma dica para os novos escritores? 

Roniwalter Jatobá: Leiam. 

Ligados: Gostaria de encerrar com mais algum comentário? 

Roniwalter Jatobá: Já disse isso em algum lugar, mas não custa repetir. O ato de ler poesia e prosa é uma das ocupações mais estimulantes e enriquecedoras do espírito humano. Para o escritor Mario Vargas Llosa, a literatura é uma atividade insubstituível para a formação de cidadãos na sociedade moderna e democrática. “Por essa razão, ela deveria ser semeada nas famílias desde a infância e fazer parte de todos os programas educacionais”, diz o escritor peruano. “Nada nos protege melhor da estupidez do preconceito, do racismo, da xenofobia, do sectarismo religioso ou político e do nacionalismo excludente do que esta verdade que sempre surge na grande literatura: Todos são essencialmente iguais.” 


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 28/12/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Entrevista com o escritor Ronaldo Cagiano no Ligados FM

LINK ORIGINAL: AQUI.

Ronaldo Cagiano, nascido em Cataguases no ano de 1961, é advogado, escritor, ensaísta e crítico. Participa de algumas antologias brasileiras e estrangeiras, colabora em diversos jornais nacionais e do exterior, além de ter sido premiado em vários concursos literários. Publicou os livros "Palavra engajada" (poesia, Ed. Scortecci, SP, 1989); "Colheita amarga & outras angústias" (poesia, Ed. Scortecci, SP, 1990); "Exílio" (poesia, Ed. Scortecci, SP, 1990); "Palavracesa" (poesia, Ed. Cataguases, Brasília, 1994); "O prazer da leitura", em parceria com Jacinto Guerra (contos juvenis, Ed. Thesausus, Brasília, 1997); "Prismas – Literatura e outros temas" (crítica literária, Ed. Thesaurus, Brasília, 1997); "Canção dentro da noite" (poesia, Ed. Thesaurus, Brasília, 1999); "Espelho, espelho meu", em parceria com Joilson Portocalvo (infantojuvenil, Ed. Thesaurus, Brasília, 2000); "Dezembro indigesto" (contos, Brasília, 2001); "Concerto para arranha-céus" (contos, LGE, Brasília, 2004); "Dicionário de pequenas solidões" (contos, Língua Geral, Rio, 2006); "O sol nas feridas" (poesia, Dobra Ideias, SP, 2011) e "Moenda de silêncios", em parceria com Whisner Fraga (novela, Dobra Ideias, SP, 2012). Organizou as coletâneas "Antologia do conto brasiliense" (Projecto Editorial, Brasília, 2001), "Poetas mineiros em Brasília" (Varanda Edições, Brasília, 2001) e "Todas as gerações - O conto brasiliense contemporâneo" (LGE Editora, Brasília, 2006).

O autor Ronaldo Cagiano

Ligados: Quando a literatura entrou em sua vida? Você tinha em mente desde cedo que queria publicar livros, ou o processo fluiu, digamos assim, de forma espontânea? 

Ronaldo Cagiano: Foi a vida, ávida, que entrou em minha literatura. Desde tenra idade não me vejo senão com um livro à mão ou na cabeceira da cama. Então, desde cedo, sendo primeiro leitor, descobri que queria escrever. 

Ligados: Além de escrever, quais outras atividades você exerce, atualmente? 

Ronaldo Cagiano: Sou formado em Direito, advoguei alguns anos, mas nunca gostei da profissão. Hoje o Direito interessa-me apenas como Filosofia e Doutrina e nada como prática advocatícia. A literatura é que me proporciona prazer. Porém, não vivo da literatura; tenho emprego, sou bancário há trinta e um anos e a sobrevivência exige que o quotidiano seja interditado pelo pragmatismo, então é necessário esse vínculo funcional para poder pagar as contas, ter um mínimo de conforto material e estabilidade financeira para poder viver sem sobressaltos e poder comprar livros, discos, ir ao cinema, viajar, enfim, sentir o prazer que o trabalho não dá. 

Ligados: As suas primeiras obras lançadas foram de poesia, embora sempre tenha existido certa tendência prosaica em sua expressão poética. O que te fez aventurar-se em outro gênero que, de certa forma, era novo para você? 

Ronaldo Cagiano: Comecei escrevendo e publicando poesia. Meus primeiros passos foram num hebdomadário municipal, o jornal “Cataguases”, onde meus primeiros textos apareceram. Minha poesia sempre carregou um fluxo prosaico e com isso fui percebendo que havia um influxo narrativo nos versos. A migração para o conto e para a ficção se deu naturalmente. Mas sou leitor assíduo de poesia e continuo a escrevê-las e publicá-las. Tanto que minha relação com a ficção se encaminha mais para uma prosa poética, talvez incorporando aquele sentimento de Baudelaire: “Seja poeta mesmo em prosa.” 

Ligados: Quantos e quais livros já publicou? 

Ronaldo Cagiano: Entre livros publicados e antologias organizadas são os seguintes: 

"Palavra engajada" (poesia, Ed. Scortecci, SP, 1989); "Colheita amarga & outras angústias" (poesia, Ed. Scortecci, SP, 1990); "Exílio" (poesia, Ed. Scortecci, SP, 1990); "Palavracesa" (poesia, Ed. Cataguases, Brasília, 1994); "O prazer da leitura", em parceria com Jacinto Guerra (contos juvenis, Ed. Thesausus, Brasília, 1997); "Prismas – Literatura e outros temas" (crítica literária, Ed. Thesaurus, Brasília, 1997); "Canção dentro da noite" (poesia, Ed. Thesaurus, Brasília, 1999); "Espelho, espelho meu", em parceria com Joilson Portocalvo (infantojuvenil, Ed. Thesaurus, Brasília, 2000); "Dezembro indigesto" (contos, Brasília, 2001); "Concerto para arranha-céus" (contos, LGE, Brasília, 2004); "Dicionário de pequenas solidões" (contos, Língua Geral, Rio, 2006); "O sol nas feridas" (poesia, Dobra Ideias, SP, 2011); "Moenda de silêncios", em parceria com Whisner Fraga (novela, Dobra Ideias, SP, 2012); "Antologia do conto brasiliense" (Projecto Editorial, Brasília, 2001), "Poetas mineiros em Brasília" (Varanda Edições, Brasília, 2001) e "Todas as gerações - O conto brasiliense contemporâneo" (LGE Editora, Brasília, 2006).

Ligados: Como acontece o seu processo de criação literária? 

Ronaldo Cagiano: A poesia e a ficção nascem do acaso, em qualquer lugar, em qualquer tempo. Ela irrompe quando quer. Um poema, um conto ou uma novela podem emergir de circunstâncias bem distintas: de uma ideia pré-concebida ou de um insight, de algo que se assanha em nosso inconsciente ou se insinua a partir da realidade e dos pequenos acontecimentos quotidianos. Um simples olhar ou uma simples ocorrência fortuita podem deflagrar a criação literária. Não tenho disciplina, muito menos rotina imposta. No entanto, um texto pode surgir no trabalho, do sonho, de uma caminhada, de uma viagem, de um traslado de ônibus ou metrô, de uma conversa entreouvida num botequim, de uma cena flagrada ao acaso. Tudo pode ser matéria e circunstância que, ocorrendo no momento certo, podem ser apreendidas como leitmotiv. Assim como a memória, fonte inesgotável de motes literários. 

Ligados: Em seus textos em prosa são comuns os temas urbanos, a modernidade, a metrópole e a ruptura social. Por que o autor se utiliza destes cenários? 

Ronaldo Cagiano: Sempre vivi na cidade. Até os 18 anos, vivi em Cataguases, cidade industrial da zona da Mata Mineira, que tem uma ligação muito forte, por conta da proximidade, com Rio de Janeiro e Belo Horizonte e um pouco também com São Paulo. Mudei-me para Brasília, onde vivi 28 anos e há cinco estou em São Paulo. Minha experiência pessoal, afetiva, geográfica, histórica, social e psicológica é toda urbana e a maior parte da minha vida eu a passei em grandes centros. Por essa razão capto esse universo que me é particular. Jamais escreveria sobre o sertão, seja ele mineiro, do cerrado ou do Nordeste, porque não saberia reproduzir a sua riqueza, seus valores e idiossincrasias, porque não fui afetado por essas realidades. Então, falo do que vivi e de onde vivi e os centros urbanos me oferecem o material humano e sensorial para minha confecção literária. Então, são as questões ligadas a essa vivência que procuro captar no meu trabalho, principalmente um olhar sobre a solidão e insularidade do homem contemporâneo na sociedade premida por tantas exigências e demandas, que sofre as suas tragédias diárias e se avilta diante do caos que lhes é tão peculiar. 

Ligados: Ainda na literatura, você foi organizador de inúmeras coletâneas. Em sua opinião, qual a importância deste difusor cultural no cenário literário brasileiro? 

Ronaldo Cagiano: As antologias são importantes – e até necessárias – no sentido de mapear um território e registrar uma época dentro do panorama da literatura, no entanto elas não são definitivas, não há qualquer caráter compulsório e definidor de cânones, porque é a peneira do tempo, do leitor e da crítica que vão dizer o que permanecerá. As antologias refletem um universo num dado lugar e momento e aí há o vezo subjetivo, pois entra o juízo de valor do organizador. Por mais isento que se queira ser na organização de coletâneas literárias, há sempre o risco das injustiças e dos excessos, porque você acaba delimitando um determinado espaço criativo em função de seus gostos e suas escolhas. E como dizia Clarice Lispector, “Toda escolha implica num assassinato”. O que a define como o melhor da prosa; ou B como o melhor da poesia; ou Fulano faz o panorama da literatura negra, ou gay, ou feminina, no fundo acaba guetificando e reduzindo a literatura, porque outros olhares ou julgamento serão feitos, tantos forem os idealizadores. Portanto, precisamos relativizar esses trabalhos coletivos. Nem sempre uma antologia é totalmente fiel ao seu tempo e à geografia que pretende mensurar. 

Ligados: Certa vez Kafka (escritor que você já demonstrou ter grande admiração em seus livros) disse: “Tudo que não é literatura me aborrece”. Qual o significado desta frase para você? Aproveitando, que outros autores te influenciam? 

Ronaldo Cagiano: Essa frase é o que define a minha vida. Como detesto futebol, é nesse campo que atuo. Como não acredito em Deus, é ela meu evangelho. Literatura para mim é farol, chão, teto, pulmão, janela. Como já disse Northrop Frye, “A literatura continua sendo o único lugar onde se pode ser livre.” Lembro-me de uma frase do amigo e escritor Duílio Gomes, mineiro de Mariana, falecido há pouco mais de um ano, que serve também para situar minha relação com a escrita: “Escrever não é a coisa mais importante do mundo, mas deixar de fazê-lo, quando se tem vocação para tanto, pode ser a pior coisa do mundo.” Quanto a influências, eu prefiro falar nas que sofri com a experiência pessoal, o dia a dia, o passar a infância engraxando sapatos na barbearia, cujo convívio com pessoas e o acesso às leituras de jornais foram fundamentais na minha formação. Mas em relação a autores há aqueles que me acompanham sempre, cujas leituras renovam em mim o prazer de escrever: Graciliano Ramos, Anton Tchecov, Albert Camus, Kafka, Pessoa, Drummond, Bandeira, Vergílio Ferreira, Lobo Antunes, Faulkner, Thomas Mann, Proust, Campos de Carvalho, Clarice, Machado, Rosa. 

Ligados: Que dica você daria aos novos escritores? 

Ronaldo Cagiano: A leitura precede ao escritor. Ao talento e pré-disposição para escrever, o hábito de leitura se converte no maior aliado. È a leitura (e releitura, principalmente) que nos colocam na direção de uma escrita afinada e profunda. Não há como aprimorar seu processo criativo sem a constância da leitura. Inquieta-me perceber que há escritores que iniciam sua trajetória, começam publicando aqui e ali, mas não leram nada. Isso empobrece o trabalho individual e nivela por baixo as novas gerações. 

Ligados: Existem projetos em pauta ou títulos para serem publicados? Se sim, poderia nos falar um pouco sobre eles? 

Ronaldo Cagiano: Estou com dois livros novos, um deles de poesia, ainda inéditos. Recentemente, fui contemplado com a Bolsa do Governo do Estado de SP, destinada à conclusão de obras em andamento. Meu livro de contos “Eles não moram mais aqui” in progress foi escolhido. Escrevi um romance, “Diolindas”, em parceria com minha esposa, Eltânia André. E também sairá em 2012 em Coimbra meu livro de poesia “O sol nas feridas”, que foi publicado ano passado aqui e foi finalista do Prêmio Portugal Telecom. 

Ligados: Considerações finais. 

Ronaldo Cagiano: Deixo aqui minha reflexão, a partir de uma sentença de Fernando Pessoa: “A literatura, como toda arte, é a confissão de que a vida não basta.”


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 14/12/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

Entrevista com o escritor Pipol no Ligados FM

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José Pires, ou Pipol, como é mais conhecido no meio artístico, além de poeta (autor do e-book “Brinquedos de Palavras”) é também editor-fundador do Cronópios, portal de literatura brasileira que publica textos de autores contemporâneos, além de entrevistas, críticas e podcasts. Paralelamente ao projeto inicial, há ainda a TV Cronópios e o Cronopinhos (que acaba de ganhar um projeto experimental em parceria com o mestre bonequeiro Jorge Miyashiro, chamado Cia. Cronopinhos de Teatro de Bonecos). O referido portal ganhará no próximo ano uma nova interface.

O autor Pipol

Ligados: O seu nome de batismo é José Pires, porém, é mais (ou somente) conhecido no meio literário como Pipol. De onde surgiu esse apelido, e quais as razões que o levaram a adotá-lo também como pseudônimo artístico? 

Pipol: O apelido ficou depois de outro apelido. O título que dei ao meu primeiro livro de poemas foi “Pipoca”, isso lá nos anos 80. Claro que, depois do livro, ganhei o apelido de Pipoca. Durante muitos anos, mesmo não gostando, os amigos me chamavam de Pipoca. Depois de um tempo, eles foram me arrumando um apelido do apelido que virou o tal Pipol. Aí eu já gostei mais, e resolvi adotar o apelido com a grafia “errada” - não é o “people” do inglês. 

Ligados: Qual “estopim” te levou a escrever poesias? 

Pipol: Eu me interessei por literatura e arte e poesia somente na época da faculdade, antes meu interesse sempre foi por ciência e o mundo científico. Meu caminho natural era me tornar um cientista. Mas durante a faculdade, depois das aulas, a gente frequentava muitos barezinhos de estudantes. Numa bela noite eu vi um pessoal chegando ao bar oferecendo uns livros de poemas que eles mesmos editavam e vendiam. Eu fiquei impactado com aquilo. Na hora me deu vontade de ser como eles, de ser amigo deles... O pior foi que eles me aceitaram... (risos) Fui acolhido por pessoas que eram como que de outro mundo para mim. 

Ligados: A difusão dos seus textos começou com a criação do extinto grupo de poetas “Pirataria Poética”, ou já havia rastros de outros movimentos culturais antes? Têm boas lembranças daquele tempo? 

Pipol: Tenho boas lembranças, sim, da época da nossa Pirataria Poética, lá de Bauru – SP. Tiveram outros grupos de poetas na cidade antes do nosso, claro. E devem existir outros hoje por lá. Trabalhar em grupo e criar junto com outros artistas é muito bom. Fazíamos um monte de maluquices e aprendemos um monte de coisas uns com os outros. Mas estávamos numa cidade do interior, na época não existia internet e quase nem telefone. Para mim foi fundamental ser um membro da Pirataria Poética. Até hoje eu tenho lá no escritório do Cronópios a capa original do nosso livro. 

Ligados: Como surgiu o Cronópios, e qual o objetivo do mesmo, além dos planos para o futuro? 

Pipol: Eu ouvi falar de internet pela primeira vez em 1990. Achei interessante tudo, mas na verdade eu não entendi a dimensão daquilo. Depois, em 1996, a internet começou a chegar forte aqui no Brasil. Em 1997 eu quis saber o que era isso e fui fazer um curso de html. Meu primeiro site, feito na unha, programando com código html direto, foi o meu livro de poemas chamado “Brinquedos de Palavras”. Acho que foi um dos primeiros e-books, isso foi no começo de 1997. Esse site-livro começou a ser visto e eu me animei. Tive alguns retornos bem legais. Depois de algum tempo já começaram a aparecer sites de tudo. Apareceram sites de literatura também. Eu mandei o link do meu “Brinquedos de Palavras” para vários destes sites buscando divulgação. Um dos editores de um destes sites acabou sendo meu sócio na montagem do Cronópios (que é um site que surgiu depois de outros sites de literatura). Agora estamos trabalhando muito no Novo Cronópios, que deve chegar em janeiro de 2013. Tudo muda de patamar com essa estreia. 

Ligados: A TV Cronópios veio paralela ao projeto inicial, ou surgiu de uma necessidade maior de atingir o público? 

Pipol: A TV Cronópios surgiu de minha paixão pelo cinema documentário e vontade de fazer projetos diferenciados usando a linguagem televisiva. Eu sempre fui ligado a imagens em movimento. Tive a oportunidade de trabalhar numa emissora de TV. Lá eu dirigi um programa para o público jovem chamado Zapteen. Para mim a TV só não estreou junto com o Cronópios porque na época não havia banda larga e nem as técnicas de edição e computadores mais potentes de hoje. 

Ligados: Há alguma chance do Cronópios chegar também às versões impressas? 

Pipol: Seria como trocar uma nave espacial por uma carroça. Essa é a diferença correta e correlata entre os dois meios. O que podemos fazer é lançar um livro comemorativo ou um álbum ou coisa parecida. Mas isso seria uma parte menor do nosso interesse. 

Ligados: Editar ou escrever te proporciona mais prazer? 

Pipol: Editar o Cronópios e tudo o que isso envolve não me deixa muito tempo para escrever. Escrevo nas sobras de tempo. Como nunca sobra tempo... Mas é um enorme sentimento de satisfação e de dever tocar um projeto de arte como o Cronópios. 

Ligados: Recentemente foi fundada a Companhia de Teatro de Bonecos do Cronopinhos, em parceria com o consagrado mestre bonequeiro Jorge Miyashiro. Poderia nos fornecer mais detalhes a respeito? 

Pipol: Queremos animar o nosso Cronopinhos. Quando o Novo Cronópios ficar pronto, vamos dar uma atenção especial para esse mundo dos que escrevem e editam para crianças. A ideia é aproveitar a experiência do Jorge Miyashiro com os vários trabalhos que ele já desenvolveu para o público infantil e criar a coisa a partir daí. A primeira ideia da nossa parceria foi criar a Cia. Cronopinhos de Teatro de Bonecos. Parece uma boa ideia. Vamos experimentar. 

Ligados: Você disse que não escreverá outro livro solo, apenas irá atualizar e aumentar constantemente o “Brinquedos de Palavras”. Como a obra se encontra hoje? 

Pipol: Como se diz no mundo da web, está em fase BETA. 

Ligados: Gostaria de encerrar com mais algum comentário? 

Pipol: Muito obrigado pela entrevista. O convite foi uma honra.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 30/11/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Entrevista com o escritor Eduardo Lacerda no Ligados FM

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Eduardo Lacerda é autor do livro de poemas "Outro Dia de Folia", premiado pelo ProAC 2011 e que será lançado em dezembro. Nasceu em Porto Alegre em 1982, mas reside atualmente em São Paulo. Coeditou a "Revista Metamorfose" e "O Casulo – Jornal de Literatura Contemporânea". Trabalhou como assistente de produção cultural na Casa das Rosas e como produtor cultural no Programa São Paulo: um Estado de Leitores. Atualmente, é coeditor da Editora Patuá, onde acredita que livros são amuletos. Tem poemas publicados em revistas eletrônicas e impressas como Entrelivros, Mirante, Ventos do Sul, Cronópios, Germina e em algumas antologias, como a Antologia Vacamarela e El Vértigo de los Aires (México). 

O autor Eduardo Lacerda

Ligados: Eduardo poeta. Eduardo produtor cultural. Eduardo editor. Em qual deles, e de que forma Lacerda mais se realiza? 

Eduardo Lacerda: A história da literatura é cheia de exemplos de escritores e poetas que também são editores, tradutores, críticos etc. Fazer literatura é muito mais do que escrever e publicar, aliás, escrever e publicar são as menores partes dentro da literatura, acredite. A literatura pede compromisso e engajamento. E penso esse sistema que funciona a poesia como uma guerrilha. É preciso ter coragem para fazer mais, para ousar. E não estou falando de fazer melhor, eu acredito muito no erro e na falha como meios de experiência literária. Como disse o Piva, “não acredito em poeta experimental sem vida experimental”, e a vida experimental contempla mil significados. 

Mas a verdade é que, para mim, estas são atividades que se complementam dentro da minha obra, uma não viveria sem a outra, mas atualmente minha grande paixão é a edição de livros. Sou mais feliz ajudando um jovem escritor a ser reconhecido do que publicando meus próprios poemas, tanto que demorei mais de doze anos para publicar “Outro dia de folia”, meu livro de estreia. 

Ligados: Como surgiu o seu fascínio pela literatura? 

Eduardo Lacerda: Minha mãe sempre teve o hábito de ler para mim, lembro que ela lia algumas histórias infantis e eu adorava, mas o primeiro livro do qual me recordo da leitura, que me impressionou muito, foi, sim, acredite, um livro do Paulo Coelho. Hoje, muito mais experiente como leitor, não conseguiria ler duas frases do ‘mago’, mas em uma família pobre, de pais sem estudo, mas cheios de boa vontade, aquela leitura aos seis anos me colocou em um outro mundo. Essas experiências são bem pessoais, talvez aquela leitura, para outra criança, desperte outras coisas, não um leitor. Provavelmente não desperte mesmo. Mas acredito que para mim, naquele momento, foi decisivo para querer ler outras coisas, conhecer outras coisas. Se não me engano, o segundo livro que me leram e que me leu foi “Dom Casmurro”, um salto incrível, não é? Depois li tudo o que foi possível, principalmente depois de descobrir, já na escola, a poesia e as bibliotecas. 

Hoje meu fascínio pela literatura é o da participação na ‘vida literária’ através dos encontros, das conversas, dos recitais, debates, saraus, publicações etc. 

Ligados: Você publicará em dezembro o tão temido livro de estreia, um projeto que reúne alguns poemas e que foi premiado pelo ProAC, intitulado de “Outro dia de folia”. Está otimista quanto à receptividade da obra? Aproveitando, poderia nos fornecer detalhes a respeito? 

Eduardo Lacerda: Alguns poemas desse livro foram premiados em diversos concursos, outros publicados em revistas e sites; por fim, o conjunto foi premiado pelo ProAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. O prêmio, de 10 mil reais, possibilita a produção de mil exemplares do título, sendo que 200 serão distribuídos gratuitamente nas bibliotecas públicas do Estado de São Paulo, o que é ótimo para a recepção da obra. Além disso, pretendo envia-lo para críticos, poetas e professores como forma de divulgação. 

De qualquer forma, eu tenho consciência de que a divulgação de um livro é extremamente difícil, e não será diferente com o meu. Sei, também, que apesar de existirem alguns ótimos poemas dentro do livro, eu tenho inconstâncias, ainda estou desenvolvendo uma linguagem. No meio desses ótimos poemas, muitos medianos, apenas razoáveis e também ruins. Mas é importante ter coragem de acreditar no erro e entrar no debate da poesia contemporânea com a minha proposta poética. 

Ligados: O que te faz escrever poesias? 

Eduardo Lacerda: Os motivos que me fazem escrever um poema são diversos. Gosto de criar personagens, quase sempre ocultos, e também espaços e cenas dentro do poema. Então tento recriar as situações do meu cotidiano e das minhas experiências, mas nunca escrevo nada sobre mim, embora seja tudo muito pessoal. Nada mais subjetivo do que a objetividade. 

Ligados: Quais livros não podem faltar em sua estante e quais autores influenciam o seu estilo de escrever? 

Eduardo Lacerda: Gosto de ler de tudo, mas principalmente poesia. E, dentro da poesia, principalmente a poesia contemporânea, os autores recentes, os jovens, os inéditos. Entre os meus escritores preferidos, cito a Hilda Hilst, Ferreira Gullar, Ana C. César, Leminski, Drummond, João Cabral de Melo Neto, Mário Faustino, Herberto Helder, Borges, Garcia Márquez, Manoel de Barros, entre os consagrados. É impossível citar nomes dos mais jovens, são muitos e correria o risco de esquecer pessoas de quem gosto muito. 

Ligados: Como surgiu a ideia de criação da Editora Patuá? 

Eduardo Lacerda: A Editora Patuá foi criada em setembro de 2010, mas publicamos nosso primeiro título em fevereiro de 2011. Atualmente contamos com quase 70 autores em nosso catálogo e temos outros 40 títulos em preparação. 

Eu já edito publicações há dez anos, desde que publiquei a Revista Metamorfose, uma revista literária que coeditei no curso de Letras da USP; depois coeditei dez números d’ O Casulo – Jornal de Literatura Contemporânea, periódico que contou, por cinco números, com o patrocínio da Prefeitura de São Paulo, através do programa VAI – Valorização de Iniciativas Culturais. 

A Patuá tem dois editores, Aline Rocha e eu.

Ligados: Quais as dificuldades do jovem empreendedor que busca se engajar em um mercado literário cada vez mais competitivo? A editora possui um diferencial que a destaca das demais, ou seja, uma proposta que atrai o público, de maneira geral? 

Eduardo Lacerda: São duas perguntas muito importantes. 

Sobre as dificuldades do jovem empreendedor ou escritor. Quais as dificuldades? Nunca foi tão fácil publicar e divulgar o próprio trabalho. A dificuldade, que não é a do engajamento, mas da falta dele, está no fato de que a imensa maioria dos jovens (e também dos ‘velhos’) escritores brasileiros não gostam de ler, não compram literatura, não se interessam pelo outro, não têm consciência do mercado editorial e literário, desconhecem nossos escritores, estreantes ou consagrados. São preguiçosos e, mesmo assim, quase sempre arrogantes. A literatura deve ser uma festa, a literatura permite encontros, nos traz experiências e amigos. Mas é preciso compromisso, é preciso trabalho. 

O mais bonito é que todos os dias surgem novos grupos de jovens querendo criar uma revista, querendo fazer um sarau, uma leitura pública, um projeto de editora. Eu acredito nesses jovens. E só há dificuldade porque decidiram mesmo fazer alguma coisa. Eu fiz muitas coisas, junto com amigos. Foi difícil? Foi. Mas encontramos a recompensa, que é a da amizade, do encontro com a literatura. Eu acredito muito no que diz o poema “O Artista Inconfessável”, de João Cabral de Melo Neto. 

Já sobre a editora, a Patuá é, provavelmente, a única editora no país que está publicando jovens autores estreantes sem cobrar pela edição e fazendo, além disso, um trabalho de divulgação. Há outras editoras que publicam gratuitamente, como já disse várias vezes, nada mais fácil do que publicar livros. Mas tentamos ir além de publicar um livro. Nós queremos fazer sempre melhor. Utilizamos, para cada livro, um projeto gráfico exclusivo, criamos ilustrações criativas e bonitas, utilizamos apenas os melhores papéis e acabamentos, divulgamos o livro através do envio para jornais, revistas, críticos e professores. Indicamos nossos autores para participação em eventos, debates, cursos. Em menos de dois anos publicamos quase 70 autores, todos ótimos. 

Ligados: Que dica você daria aos novos escritores? 

Eduardo Lacerda: Eu repito esse conselho sempre que é possível: Os escritores deveriam ler mais. Tenho a impressão, quase certeza, de que existem mais escritores no mundo do que leitores – um paradoxo, sim –. Vejo, todos os dias, os escritores reclamando da falta de espaço nos jornais, nas editoras, nas livrarias. Como um autor pode esperar por um espaço nesse mundo se ele mesmo não é um espaço para outros escritores? 

Ligados: Algum outro projeto em mente? 

Eduardo Lacerda: Demorei algum tempo para responder a essa entrevista, mas foi bom, pois recebemos há poucos dias a notícia que a Patuá foi premiada no ProAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura. Ano passado, como dito, tive meu livro pessoal contemplado, com um prêmio de R$ 10.000,00. Este ano recebemos um prêmio para a editora, com um valor bem maior. O projeto, basicamente, contempla a publicação de 12 livros, com tiragem de 1500 exemplares cada, de 12 autores inéditos. Serão, ao todo, 18 mil exemplares, sendo que 20% serão doados para as bibliotecas públicas do Estado de São Paulo. 

Ligados: Considerações finais. 

Eduardo Lacerda: Só quero agradecer a oportunidade e dar os parabéns pelo excelente trabalho. São dos que digo que fazem a diferença.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 16/11/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com