quinta-feira, 20 de março de 2014

Entrevista com o escritor Whisner Fraga no Ligados FM

LINK ORIGINAL: AQUI.

Whisner Fraga nasceu em Ituiutaba-MG, em 1971. Doutor em engenharia, professor e escritor. Participou de inúmeras antologias de contos, a maioria delas oriundas de premiações em concursos literários, incluindo o Concurso de Contos Luiz Vilela, que era considerado o maior certame literário do país. Possui também textos publicados em revistas como a Cult, Bravo!, e a Revista E, do SESC. 

Tem os livros publicados: Seres e Sombras, de 1997, Edição do Autor; Coreografia dos Danados, 2002, Edições Galo Branco; A Cidade Devolvida, 7Letras, 2005; As espirais de outubro, Nankin, 2007; O livro dos verbos, Dulcinéia Catadora, 2008; Abismo poente, Ficções, 2009; O livro da carne, 7letras, 2010 e “Sol entre noites”, Ficções, 2011. 

Lançará amanhã, em parceria com Ronaldo Cagiano, o livro “Moenda de silêncio”, pelo selo da Dobra Editorial.

O autor Whisner Fraga

Ligados: Como foi o início de sua trajetória como escritor? 

Whisner Fraga: Profissionalmente iniciei a carreira em 1997 com o livro “Seres e Sombras”. Eu banquei a publicação, bem baratinha, de 500 exemplares. Eu achava que essa obra me levaria ao estrelato imediatamente, pois era ingênuo demais. Mal sabia que os contos eram uma porcaria e que a edição ruim não ajudaria em nada. Antes disso eu editava e distribuía fanzines poéticos, que servia como veículo de divulgação de meus versos e também dos de vários colegas. Mas a verdade é que sou escritor desde que aprendi a ler e a escrever. Trabalhei meus primeiros textos com nove, dez anos de idade. 

Ligados: O que o levou a escolher Engenharia e não Letras? 

Whisner Fraga: Eu gosto da Matemática e também da Física e eu sabia que se cursasse Letras teria mais dificuldade para me ajeitar profissionalmente. Eu tinha a convicção, desde muito cedo, que não se vive de literatura no Brasil e, mesmo no mundo, há poucos escritores que conseguem sobreviver dignamente com os direitos autorais oriundos de suas obras. Assim, acreditava que a Engenharia me traria o sossego financeiro de que eu precisaria para poder criar. E foi o que ocorreu. Na verdade, exerci o ofício durante pouco tempo, logo tratei de me qualificar, pois queria seguir a carreira acadêmica, que é afim à literária. Mais tarde consegui cursar Letras e até Pedagogia e posso afirmar que os dois cursos em nada contribuíram para o aperfeiçoamento de minha ficção. Sobre este assunto, gostaria de acrescentar que sou muito curioso e aberto a qualquer tipo de conhecimento. Penso que tudo pode ser assunto para meus livros, basta ser um bom observador. 

Ligados: Quantos e quais livros já lançou? 

Whisner Fraga: Lancei 8 livros: “Seres e sombras”, em 1997, “Coreografia dos danados”, em 2002, “A cidade devolvida”, em 2005, “As espirais de outubro”, em 2007, “Abismo poente”, em 2009, “O livro da carne”, em 2010, “Sol entre noites”, em 2011 e “Moenda de silêncios”, em 2012, livro escrito em parceria com Ronaldo Cagiano. 

Ligados: Você publicou obras em diversos gêneros literários. Qual deles te proporciona maior prazer e por quê? 

Whisner Fraga: Todos os gêneros me dão igual prazer. Não tenho preferência. Estou sempre escrevendo versos e crônicas enquanto trabalho contos e romances. Mas se eu tivesse de escolher, optaria pelos contos. É o gênero que me permite maior ousadia formal. Como o conto é uma narrativa relativamente curta, posso trabalhar melhor a linguagem, tornar o texto mais denso. Eu tento não me prender a gêneros também, de maneira que os livros “Abismo poente” e “Sol entre noites” não podem ser caracterizados como romances ou como coletâneas de contos. Como leitor, gosto de todos os gêneros, não tenho absolutamente nenhuma preferência. Tenho sim, uma exigência: tudo que leio tem de ter qualidade.

Ligados: “Sol entre noites” e “Abismo poente” contam a história da imigração libanesa para uma cidade do interior mineiro. Como surgiu essa ideia? 

Whisner Fraga: É verdade. A ideia surgiu porque conheço bastante a cultura deste povo, cresci com uma família libanesa, no interior de Minas Gerais. Mas não são, de maneira alguma, livros autobiográficos. Pesquisei intensamente a história do Líbano para compor as personagens e a trama. Às vezes digo por aí que não há quase nenhuma história nos livros, o que, evidentemente, é uma pegadinha. É que a linguagem presente nos dois livros é muito complexa, trabalhada. Fui acusado até de ser barroco demais. É óbvio que quem fez essas considerações não entende nada de literatura. De resto, o que mais há na literatura é gente presunçosa, que mal lê um livro ao mês. Acontece que hoje os leitores e críticos são preguiçosos e rejeitam tudo que não é fácil. Pode ter certeza que muitos acadêmicos têm “O alquimista” como livro de cabeceira.

Ligados: Em 2010 você publicou um livro de poesias intitulado “O livro da carne”. Porque escolheu este nome, e como planejou a sua estruturação? 

Whisner Fraga: O nome dialoga com um livro que foi muito importante na minha vida, que é a Bíblia. Minha família é muito religiosa, estudei em colégio de padres, fiz primeira comunhão e crisma e só não fui coroinha por timidez mesmo. Hoje não frequento mais nenhuma igreja, mas essa educação cristã me marcou muito. Então “O livro da carne”, que vem resgatar essa minha infância mineira, aborda muito essa questão. A carne transposta para o verbo e para o verso. A estrutura do livro é simples: como falo de minha infância, eu a dividi em três fases: a inocência, a descoberta e o desgosto. 

Ligados: Você lançará, ainda em setembro, o livro “Moenda de Silêncios”, em parceria com o Ronaldo Cagiano. Sinta-se a vontade para fornecer detalhes a respeito da obra. 

Whisner Fraga: É um livro juvenil. Acho que para os padrões atuais de literatura, talvez o mercado não considere a obra juvenil, mas a concebemos assim. Há dez anos escrevemos o livro juntos, mas sem essa de cada um criar um capítulo ou um trecho. Escrevemos juntos mesmo, um interferindo no texto e no estilo do outro. Foi uma experiência muito enriquecedora, aprendi muito com o Ronaldo. Aí deixamos o livro na gaveta, eu sentia que a obra não estava pronta e Cagiano também. Então, há um ano e meio retomamos a obra e a retrabalhamos incansavelmente. Fizemos um trabalho profundo de reescrita e revisão e ficamos mais contentes com o resultado. Em vez de submetermos os originais a editoras, nós o inscrevemos em um concurso do governo de São Paulo e acabamos levando o prêmio. A obra será lançada primeiramente em Belo Horizonte, no dia 22 de setembro, pelo selo da Dobra Editorial. Posteriormente será lançada em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

Ligados: Pretende disponibilizar uma segunda edição de “Seres e Sombras”, seu livro de estréia? 

Whisner Fraga: Não pretendo não. Aliás, sempre que encontro uma cópia deste livro em sebos, eu a compro para depois queimá-la. É um livro que eu quero que seja esquecido. O que eu fiz foi separar os melhores contos de “Seres e sombras”, reescrevê-los e adicioná-los às narrativas de “Coreografia dos danados” para uma segunda edição comemorativa deste último, que será lançada em outubro próximo. 

Ligados: Os leitores que têm a oportunidade de ler todos os seus livros percebem que eles dialogam entre si. Esta intercalação é intencional? 

Whisner Fraga: Sim, é intencional. Eu sempre gostei de intertextualidade. Tem outra brincadeira que costumo fazer também, que é copiar frases inteiras de um livro e colá-las em outra obra. Acho isso divertido. Recuperar personagens de uma obra, inseri-las em outro contexto, em outro relato. Todas as minhas obras se comunicam entre si, vou deixando pistas aqui e ali.

Ligados: Tem ideia de quantos Concursos Literários já venceu? 

Whisner Fraga: Não faço ideia. Às vezes vejo escrito no currículo de algum escritor que ele já ganhou mais de duzentos certames e, se a gente for ver, a literatura do sujeito é fraca. Claro, há concursos e concursos. Há colocações e colocações. Por exemplo, uma menção honrosa em um evento caça-níquel entra nessa conta? O que eu posso lhe afirmar, sem arrogância nenhuma, é que já venci os principais concursos de contos e poesias do país. 

Ligados: Possui textos em antologias? 

Whisner Fraga: Também não faço ideia de quantas antologias contam com meus trabalhos. Sou desorganizado, neste sentido. Não guardo matérias em jornais, não faço inventários ou listas. Mas posso citar de cor algumas antologias de que participo: “Os cem menores contos do século”, organizada por Marcelino Freire; “Primos”, organizada por Tatiana Salém Levy; “Geração zero zero”, organizada por Nelson de Oliveira e a antologia da editora alemã Lettrétage, organizada pela pesquisadora Marlen Eckl e que será lançada na Feira de Frankfurt em 2013. A versão brasileira desta antologia será lançada pela Editora Faces, da Bia Willcox e do Zeca Fonseca. 

Ligados: Qual a sensação de ter sido homenageado no Concurso de Contos do Tijuco? 

Whisner Fraga: Foi uma das maiores emoções da minha vida. Não que eu seja vaidoso, é que a homenagem veio de minha cidade natal. Quando eu comecei a escrever, minha grande ambição literária era vencer o Concurso Luiz Vilela, não porque era o maior prêmio literário do país, mas porque era organizado pela minha cidade. Então fiquei cinco vezes entre os dez selecionados, sendo que uma vez fui o vencedor. Cada um desses cinco prêmios foi muito especial, mas nem se compara a ser homenageado com um concurso de contos. É um reconhecimento que me enche de satisfação, me dá um ânimo danado. 

Ligados: Projetos? 

Whisner Fraga: Estou escrevendo dois livros, um de minicontos e outro de contos. Ambos estão adiantados. O de minicontos tem até título: “Lúcifer e outros subprodutos do medo”. Gravei vários vídeos lendo esses pequenos textos e convidei amigos artistas para bolarem alguns também. Todos estão no youtube, qualquer um pode ir lá e conferir. Esses amigos são pessoas com um talento monstruoso, artistas que admiro muito pela ousadia formal e pelo desejo que têm de produzir algo novo. São eles: Edgar Franco, Daniela Lima e Carla Dias, por enquanto. Mas estou com outros nomes para convidar. 

Já o livro de contos não tem título ainda. Quer dizer, tem um provisório, que é “Algo tênue e dilacerado”. Essa obra foi concebida assim: são oito contos e todos narram a mesma história, sob o mesmo ponto de vista, que é o do narrador. A ideia é lançar o de minicontos em 2013 e este de contos em 2014, algo desse tipo. 

Depois, estou trabalhando numa ideia com a Daniela Lima. Será outro livro escrito a quatro mãos. Estamos na fase de discussão da trama. Desde que li o livro de estreia da Daniela, senti que teríamos de escrever algo juntos, pois ela tem um estilo muito forte e bem próximo ao que proponho. Temos a intenção de começar o livro ainda este ano. 

Perguntas rápidas: 
Autor(a): António Lobo Antunes; 
Ator(Atriz): Jeanne Moureau; 
Site: Concursos Literários;
Banda: Ira!; 
Música: La bohème; 
Filme: Encouraçado Potemkin. 

Links na internet: 

Links dos seus produtos nas lojas online: 
Saraiva: Aqui
Cultura: Aqui
Submarino: Aqui
Travessa: Aqui;
Ficções Editora: Aqui.

Ligados: Considerações finais. 

Whisner Fraga: Gostaria de agradecer a oportunidade de fazer esta entrevista e queria acrescentar que sempre estou disposto a dialogar com meus pares - então qualquer pessoa que quiser me mandar uma mensagem será muito bem-vinda. Responderei com prazer.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 21/09/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

Entrevista com o escritor Horácio Medeiros no Ligados FM

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O nosso convidado da vez é o escritor, professor e médico oncologista Horácio Medeiros. Aos 40 anos de idade, é autor do livro “Cameron e a viagem mitológica em busca da felicidade”, lançado em 2008 durante a Feira do Livro de Mossoró. Vale salientar que ele mesmo ilustra os seus textos de maneira impecável... Medeiros é natural de Caicó, e nos fala sobre literatura, desenho, vida pessoal e pretensões para o futuro nesta brilhante entrevista que nos cede.

O autor Horácio Medeiros

Ligados: Quem é Horácio Medeiros? 

Horácio Medeiros: Uma pessoa de origem simples que sempre sonhou em viver de arte e fazer medicina por prazer. Uma eterna criança que apesar do tempo passado, tem na cabeça muitas fantasias, as quais tenta transportar para o papel, seja desenhando ou escrevendo. Na verdade, devido à seriedade do trabalho que desenvolvo como médico oncologista e professor da universidade, poucos conhecem a figura por trás do profissional. 

Ligados: Quando e como começou a escrever? 

Horácio Medeiros: No colégio, já me destacava ao escrever meus textos, mas comecei a registrar minhas ideias de forma mais obsessiva na época de faculdade, quando resolvi escrever meu primeiro livro. Desde essa época, criei o hábito de registrar meus sonhos e ideias no que chamo de “livro dos sonhos”. É um livro que eu mesmo encadernei há muito tempo atrás e que me serve como uma espécie de registro para ideias, sonhos, fragmentos de coisas que leio e que vão surgindo no meu dia a dia. É muito prazeroso voltar e ler de vez em quando o que escrevi há 15 anos atrás e repaginar as ideias colocando no que produzo hoje. Descobri depois que esta é uma mania de muitos escritores. Essa minha mania de “construir livros” vem da minha vontade de possuir um atlas de anatomia quando fazia a oitava série. Já era apaixonado por ciências e tinha a mania de reunir tudo em livros. Tinha uma brochura de experimentos e ideias que ia reunindo de livros emprestados da biblioteca e dos amigos. Mas o ponto alto foi quando comecei a desenhar meu atlas de anatomia humana. Fiz uma encadernação com folhas de ofício e capa forrada com espuma e pedaços de uma velha calça jeans. Nele, ia reproduzindo os desenhos anatômicos de livros de ciências que ia encontrando pela frente. Ainda cheguei a desenhar algo quando entrei na faculdade de medicina. Ainda o guardo até hoje, já com suas páginas amarelinhas. 

Ligados: Em seu primeiro livro, nota-se uma rica variedade de enigmas e figuras mitológicas. Em que se baseia o seu estilo literário? Quando surgiu o interesse por este tipo de conteúdo? 

Horácio Medeiros: O primeiro livro que lembro ter lido foi o “Dicionário da Mitologia”, que me foi presenteado por uma tia. As histórias envolvendo deuses e humanos e depois sua relação com a história antiga que vi no colégio me envolveram e ainda hoje é uma das minhas melhores leituras. Meu contato com a maçonaria também me fez ter curiosidade sobre símbolos. Isso tudo na minha adolescência, em que tinha muito tempo e muita fome por conhecimento. Dessa forma, isso serviu como base para outras leituras. Leio sobre qualquer coisa sobre a qual tenho curiosidade. Recentemente, comecei a escrever sobre relógios e resolvi ler sobre a história da relojoaria. Fiquei entusiasmado com o que vi e encontrei. Outra coisa que sempre me fascinou foram pedras preciosas e a arte que as envolve. Na época em que escrevi o primeiro livro, estava iniciando minhas aulas de violino, algo que desejava desde a infância. Na verdade, escrevo sobre o que gosto. Cameron é isso: mitologia, símbolos, música. 

Ligados: Fale um pouco sobre “Cameron e a viagem mitológica em busca da felicidade”. 

Horácio Medeiros: Cameron foi o primeiro livro que resolvi publicar. Acho que como todo mundo, sempre tive muito receio do que escrevi. Ele nasceu da minha experiência dentro da maçonaria, aliado com a empolgação dos jogos de RPG que participei na época de faculdade. Para quem não sabe, RPG é um jogo de interpretação em que os jogadores incorporam personagens e se comportam como eles. Aquilo era fantástico. Eu jogava como um mago de dois metros de altura, cabelos loiros e olhos azuis “frios e hipnóticos”. Essa era a descrição do meu personagem. Vale salientar que só tenho 1,6 M de altura, olhos e cabelos castanhos. Ainda hoje encontro colegas de turma que jogavam comigo e lembram-se desta descrição. Cameron nasceu muito rápido e ficou pronto em uma ou duas tardes. O guardei na gaveta por pelo menos uns dez anos até resolver publicá-lo. Fala de um mago que usa de todo seu conhecimento de magia para criar um instrumento mágico que tem vida própria e que quando tocado, pode trazer a felicidade a quem houve. Na verdade tudo tem um pouco a ver com o que vivia naquele momento, inclusive as primeiras aulas de violino que comecei a tomar. Cameron constrói todo um templo coberto de espinhos onde o violino passa a morar. Com o passar do tempo, o violino vai perdendo suas cordas e cala-se para o mundo. Nascem quatro crianças marcadas pelo destino que quando crescidas, recebem a missão de restaurar as cordas do instrumento e para isso começam uma viagem simbólica de autoconhecimento aos quatro cantos do mundo, em busca de descobrir como restituir as cordas à “alma negra”, como Cameron chamava o violino. Foi a primeira idéia que resolvi colocar no papel e representou uma realização pessoal conseguir publicar. 

Fiz um pequeno evento dentro da Feira do Livro de Mossoró, encima do prédio da Estação das Artes Eliseu Ventania com violinistas e um cenário que eu mesmo construí com um altar central sobre o qual estava o violino de Cameron, cercado pelas personagens do livro. Foi realmente como ver um filho nascer. 

Ligados: Você mesmo ilustra os seus textos. O que te proporciona maior prazer: Desenhar ou escrever? 

Horácio Medeiros: Sim, eu mesmo faço minhas ilustrações. Sempre desejei trabalhar ilustrando livros infantis. Hoje descobri que é um setor altamente especializado e que meus desenhos não são muito comerciais. Então comecei a estudar aquarela, mas o doutorado que faço atualmente não tem deixado muito tempo. Sempre que estou escrevendo algo ou criando uma personagem, logo me vem à cabeça a sua forma e como ficaria no papel. Desenhar é uma coisa que me dá muito prazer e diversão. Esqueço o mundo e faço isso desde criança. As duas coisas me dão muito prazer, mas são prazeres diferentes. O escrever é mais recente e, portanto, é um divertimento mais maduro. Me sinto uma criança desenhando. 

Ligados: Qual o reconhecimento dos leitores a respeito do seu livro? 

Horácio Medeiros: Recebi críticas com as quais concordo. Todos gostam muito da estória e da ideia central do livro e principalmente dos seus desenhos, mas poderia ser maior com melhor desenvolvimento das situações e das personagens. Era uma criança quando o escrevi e sempre quis mantê-lo no mesmo formato. Dizia que o objetivo era ler o livro em uma tarde e que os desenhos complementariam o entendimento, deixando as lacunas para a imaginação do leitor. Hoje sei que não funciona bem assim. 

Na época em que o escrevi ainda não existia uma atenção tão grande dos leitores a este tipo de literatura envolvendo magia e símbolos com áurea da ficção que preenche as prateleiras das livrarias, como hoje. 

Ligados: Já recebeu críticas? Se sim, elas te ajudaram no amadurecimento literário? 

Horácio Medeiros: Sim, como disse, recebi críticas que foram bem vindas e hoje procuro aprender com elas quando resolvo escrever algo.

Ligados: Quais as suas pretensões a longo prazo? 

Horácio Medeiros: Publicar outros livros e me dedicar mais a isso. Tenho muitas ideias que eu gosto de chamar de originais e vários rascunhos iniciados e até alguns roteiros totalmente fechados com começo, meio e fim. Mas esta é uma fase de estudo. Estudo do mercado, estudo da arte do escrever. Não procuro apenas escrever por prazer, mas tornar comercial o que escrevo. Já descobri, por exemplo, que a ilustração do que se escreve torna seu manuscrito menos atraente para a maioria das editoras, que tem seus ilustradores premiados para tornar a obra mais comercial. Lembre que minha formação é médica e nunca tive formação para escrever, então busco isso hoje, e estudo formas de aprender sempre mais sobre o assunto. 

Ligados: Possui projetos no momento? 

Horácio Medeiros: Tenho sim. Estou terminando um manuscrito que dei o nome de “O coração do príncipe cigano”, e que inclusive pedi a opinião do Escritor Thiago Galdino, do ponto de vista de um mero leitor. Ainda falta muito trabalho no texto e concluir os últimos capítulos. Não sei se vou ilustrá-lo. Por enquanto, fiz apenas o desenho do “clave”, uma das personagens que é um pássaro mecânico com asas de chaves. Ele é uma chave mestra criada pelo mago Ganamir e que o príncipe Gorik recebe do aprendiz Almoxarir. A estória trás algumas ideias bem originais e o roteiro está bem firme. Tenho outros trabalhos como “Os sete demônios”, “O monstro dentro do médico” e “O mundo de Orion” este último, um livro infantil que também ilustrei. Pretendo participar de concursos literários que acontecem por todo o mundo e que acho que são uma grande oportunidade para quem está começando. No momento, estou totalmente envolvido com minha tese de doutorado, que está centrada em educação médica e baseada em uma estratégia de ensino que envolve fotografia e arte. 

Fui à Bienal do livro em São Paulo, agora em agosto, para conhecer melhor como funciona tudo que envolve criação, ilustração e publicação, na tentativa de profissionalizar mais o que por enquanto é só um hobby. 

Perguntas rápidas: 
Autor(a): Ariano Suassuna;
Ator(Atriz): Selton Mello;
Site: Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas; 
Banda: Pato Fu;
Música: Dust in the wind Kansas;
Filme: O violino vermelho – Francois Girard – 1998.

Links na internet:

Ligados: Considerações finais. 

Horácio Medeiros: Sempre acreditei em estudo. Tudo que pretendo fazer, procuro dar embasamento estudando. O problema é que no Brasil e em especial no Nordeste, não existem escolas de escritores, e quando se consegue algum crédito escrevendo, é com muito talento e originalidade daquilo que se produz. Minha vida acadêmica toda foi regrada pela tecnicidade da medicina. Minhas experiências são com textos e ilustrações técnicas. Essa abertura para o mundo da literatura infantojuvenil é uma das faces da bagagem que trago da minha educação básica e das leituras que explorei quando criança e que incentivo meus alunos a buscarem dentro da disciplina de Medicina e Arte, que coordeno dentro da universidade.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 07/09/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

segunda-feira, 10 de março de 2014

Mossoroense estreia no gênero policial

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Uma novela policial com direito a mensagens criptografadas, numerologia, contrabando de cédulas raras, investigação independente de dois garotos curiosos, ação policial e, finalmente, captura dos fora-da-lei. É isso que oferece a leitura do livro “Suspeitas de um mistério” (Multifoco, 2012), do estreante mossoroense Thiago Galdino, o qual se autodenomina “contador de histórias”. E, como reforço a esse mínimo autorretrato, sublinha que “somente o tempo dirá se o grau de escritor me cairá justo”. 

Dizer que “Suspeitas de um mistério” é um livro que se lê de uma assentada, não o isenta de reparos, mas salta à vista que o autor se desincumbiu satisfatoriamente da tarefa que se propôs de escrever um “thriller”, não obstante seus recursos limitados, quer literários, quer estilísticos, como a pobre caracterização dos personagens, a falta de uma padronização para marcar os diálogos, a mobilidade fácil demais dos personagens, as viagens mirabolantes etc. O importante, numa obra de estreia, é se mostrar capaz de conduzir a trama ao seu desfecho unindo as pontas soltas que foram deixadas pelo caminho. E isso Thiago Galdino mostrou saber fazer.

Na verdade, a trama segue um ritmo irregular, na medida em que seu clímax é postergado por descrições de caráter lateral, dispensáveis ao enredo do livro. Uma viagem a Boston a pretexto de tratar uma infecção bucal de um dos jovens “detetives” chega a ser inverossímil, ou melhor, desnecessária, pois o é. A própria viagem de avião em primeira classe para o sítio da tia Daura, numa ocasião em que esta passa por dificuldades financeiras é dessas situações em que só podemos exclamar: cadê o revisor desse livro? Porque o revisor não cuida apenas da correção ortográfica, mas precisa estar atento à coerência textual, a fim de que os lapsos do autor não passem para o texto final. E esse foi um trabalho que ficou por fazer.

Com efeito, uma frase como “Dezoito e meia” (referindo-se à hora) soa inteiramente artificial; do mesmo modo, é inaceitável que o livro apresente construções frasais do tipo: “contraste assombrador”, “o chefe daquele grupo era um brutamonte”, “então o porquê vocês estão chateados?”, “por que começará as aulas”, “deixei a parte que os cabiam”, dentre outras, que findam por desviar a atenção do leitor para questões gramaticais, afastando-o da trama propriamente dita. 

Quanto ao enredo em si, que peca pelo excesso de coincidências que se sucedem em seu curso, tem um elemento de modernidade inconteste: os enigmas que aí aparecem associados à criptografia, lição certamente aprendida na leitura do clássico “Um estudo em vermelho”, Conan Doyle, que desafia por algum tempo o cérebro privilegiado de Sherlock Holmes.

De fato, o “thriller”, a novela policial, gênero eminentemente anglo-saxão, não exerceu grande fascínio sobre os autores potiguares. A exceção, que confirma a regra, é a do cearense-potiguar Francisco Sobreira, cujo livro “Palavras manchadas de sangue” constitui uma bem-sucedida incursão nesse gênero. O enredo é ambientado na Natal dos anos 1980 e pontilhado de crimes que desafiam o pantagruélico e adiposo delegado Simões. Pena que o livro esteja esgotado há décadas sem que seu autor se decida a reeditá-lo. Mas não só esse, vez que a produção de Sobreira é fecunda especialmente no conto.

Enfim, “Suspeitas de um mistério” é mesmo um livro precoce, em muitos sentidos, precoce demais, haja vista que poderia ter passado por um trabalho de releitura e revisão de algumas situações dispensáveis aí presentes. Fica a certeza, porém, de que o autor, apesar de tão jovem ainda, tem inegáveis qualidades literárias. Assim, precisa cuidar do próximo livro “pra valer”, mas sem se deixar dominar pela pressa de publicar. Afinal, agora já tem “experiência”, e isso supõe profissionalismo e maturidade literária.


Autor: Nelson Patriota.