quinta-feira, 20 de março de 2014

Entrevista com o escritor Whisner Fraga no Ligados FM

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Whisner Fraga nasceu em Ituiutaba-MG, em 1971. Doutor em engenharia, professor e escritor. Participou de inúmeras antologias de contos, a maioria delas oriundas de premiações em concursos literários, incluindo o Concurso de Contos Luiz Vilela, que era considerado o maior certame literário do país. Possui também textos publicados em revistas como a Cult, Bravo!, e a Revista E, do SESC. 

Tem os livros publicados: Seres e Sombras, de 1997, Edição do Autor; Coreografia dos Danados, 2002, Edições Galo Branco; A Cidade Devolvida, 7Letras, 2005; As espirais de outubro, Nankin, 2007; O livro dos verbos, Dulcinéia Catadora, 2008; Abismo poente, Ficções, 2009; O livro da carne, 7letras, 2010 e “Sol entre noites”, Ficções, 2011. 

Lançará amanhã, em parceria com Ronaldo Cagiano, o livro “Moenda de silêncio”, pelo selo da Dobra Editorial.

O autor Whisner Fraga

Ligados: Como foi o início de sua trajetória como escritor? 

Whisner Fraga: Profissionalmente iniciei a carreira em 1997 com o livro “Seres e Sombras”. Eu banquei a publicação, bem baratinha, de 500 exemplares. Eu achava que essa obra me levaria ao estrelato imediatamente, pois era ingênuo demais. Mal sabia que os contos eram uma porcaria e que a edição ruim não ajudaria em nada. Antes disso eu editava e distribuía fanzines poéticos, que servia como veículo de divulgação de meus versos e também dos de vários colegas. Mas a verdade é que sou escritor desde que aprendi a ler e a escrever. Trabalhei meus primeiros textos com nove, dez anos de idade. 

Ligados: O que o levou a escolher Engenharia e não Letras? 

Whisner Fraga: Eu gosto da Matemática e também da Física e eu sabia que se cursasse Letras teria mais dificuldade para me ajeitar profissionalmente. Eu tinha a convicção, desde muito cedo, que não se vive de literatura no Brasil e, mesmo no mundo, há poucos escritores que conseguem sobreviver dignamente com os direitos autorais oriundos de suas obras. Assim, acreditava que a Engenharia me traria o sossego financeiro de que eu precisaria para poder criar. E foi o que ocorreu. Na verdade, exerci o ofício durante pouco tempo, logo tratei de me qualificar, pois queria seguir a carreira acadêmica, que é afim à literária. Mais tarde consegui cursar Letras e até Pedagogia e posso afirmar que os dois cursos em nada contribuíram para o aperfeiçoamento de minha ficção. Sobre este assunto, gostaria de acrescentar que sou muito curioso e aberto a qualquer tipo de conhecimento. Penso que tudo pode ser assunto para meus livros, basta ser um bom observador. 

Ligados: Quantos e quais livros já lançou? 

Whisner Fraga: Lancei 8 livros: “Seres e sombras”, em 1997, “Coreografia dos danados”, em 2002, “A cidade devolvida”, em 2005, “As espirais de outubro”, em 2007, “Abismo poente”, em 2009, “O livro da carne”, em 2010, “Sol entre noites”, em 2011 e “Moenda de silêncios”, em 2012, livro escrito em parceria com Ronaldo Cagiano. 

Ligados: Você publicou obras em diversos gêneros literários. Qual deles te proporciona maior prazer e por quê? 

Whisner Fraga: Todos os gêneros me dão igual prazer. Não tenho preferência. Estou sempre escrevendo versos e crônicas enquanto trabalho contos e romances. Mas se eu tivesse de escolher, optaria pelos contos. É o gênero que me permite maior ousadia formal. Como o conto é uma narrativa relativamente curta, posso trabalhar melhor a linguagem, tornar o texto mais denso. Eu tento não me prender a gêneros também, de maneira que os livros “Abismo poente” e “Sol entre noites” não podem ser caracterizados como romances ou como coletâneas de contos. Como leitor, gosto de todos os gêneros, não tenho absolutamente nenhuma preferência. Tenho sim, uma exigência: tudo que leio tem de ter qualidade.

Ligados: “Sol entre noites” e “Abismo poente” contam a história da imigração libanesa para uma cidade do interior mineiro. Como surgiu essa ideia? 

Whisner Fraga: É verdade. A ideia surgiu porque conheço bastante a cultura deste povo, cresci com uma família libanesa, no interior de Minas Gerais. Mas não são, de maneira alguma, livros autobiográficos. Pesquisei intensamente a história do Líbano para compor as personagens e a trama. Às vezes digo por aí que não há quase nenhuma história nos livros, o que, evidentemente, é uma pegadinha. É que a linguagem presente nos dois livros é muito complexa, trabalhada. Fui acusado até de ser barroco demais. É óbvio que quem fez essas considerações não entende nada de literatura. De resto, o que mais há na literatura é gente presunçosa, que mal lê um livro ao mês. Acontece que hoje os leitores e críticos são preguiçosos e rejeitam tudo que não é fácil. Pode ter certeza que muitos acadêmicos têm “O alquimista” como livro de cabeceira.

Ligados: Em 2010 você publicou um livro de poesias intitulado “O livro da carne”. Porque escolheu este nome, e como planejou a sua estruturação? 

Whisner Fraga: O nome dialoga com um livro que foi muito importante na minha vida, que é a Bíblia. Minha família é muito religiosa, estudei em colégio de padres, fiz primeira comunhão e crisma e só não fui coroinha por timidez mesmo. Hoje não frequento mais nenhuma igreja, mas essa educação cristã me marcou muito. Então “O livro da carne”, que vem resgatar essa minha infância mineira, aborda muito essa questão. A carne transposta para o verbo e para o verso. A estrutura do livro é simples: como falo de minha infância, eu a dividi em três fases: a inocência, a descoberta e o desgosto. 

Ligados: Você lançará, ainda em setembro, o livro “Moenda de Silêncios”, em parceria com o Ronaldo Cagiano. Sinta-se a vontade para fornecer detalhes a respeito da obra. 

Whisner Fraga: É um livro juvenil. Acho que para os padrões atuais de literatura, talvez o mercado não considere a obra juvenil, mas a concebemos assim. Há dez anos escrevemos o livro juntos, mas sem essa de cada um criar um capítulo ou um trecho. Escrevemos juntos mesmo, um interferindo no texto e no estilo do outro. Foi uma experiência muito enriquecedora, aprendi muito com o Ronaldo. Aí deixamos o livro na gaveta, eu sentia que a obra não estava pronta e Cagiano também. Então, há um ano e meio retomamos a obra e a retrabalhamos incansavelmente. Fizemos um trabalho profundo de reescrita e revisão e ficamos mais contentes com o resultado. Em vez de submetermos os originais a editoras, nós o inscrevemos em um concurso do governo de São Paulo e acabamos levando o prêmio. A obra será lançada primeiramente em Belo Horizonte, no dia 22 de setembro, pelo selo da Dobra Editorial. Posteriormente será lançada em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

Ligados: Pretende disponibilizar uma segunda edição de “Seres e Sombras”, seu livro de estréia? 

Whisner Fraga: Não pretendo não. Aliás, sempre que encontro uma cópia deste livro em sebos, eu a compro para depois queimá-la. É um livro que eu quero que seja esquecido. O que eu fiz foi separar os melhores contos de “Seres e sombras”, reescrevê-los e adicioná-los às narrativas de “Coreografia dos danados” para uma segunda edição comemorativa deste último, que será lançada em outubro próximo. 

Ligados: Os leitores que têm a oportunidade de ler todos os seus livros percebem que eles dialogam entre si. Esta intercalação é intencional? 

Whisner Fraga: Sim, é intencional. Eu sempre gostei de intertextualidade. Tem outra brincadeira que costumo fazer também, que é copiar frases inteiras de um livro e colá-las em outra obra. Acho isso divertido. Recuperar personagens de uma obra, inseri-las em outro contexto, em outro relato. Todas as minhas obras se comunicam entre si, vou deixando pistas aqui e ali.

Ligados: Tem ideia de quantos Concursos Literários já venceu? 

Whisner Fraga: Não faço ideia. Às vezes vejo escrito no currículo de algum escritor que ele já ganhou mais de duzentos certames e, se a gente for ver, a literatura do sujeito é fraca. Claro, há concursos e concursos. Há colocações e colocações. Por exemplo, uma menção honrosa em um evento caça-níquel entra nessa conta? O que eu posso lhe afirmar, sem arrogância nenhuma, é que já venci os principais concursos de contos e poesias do país. 

Ligados: Possui textos em antologias? 

Whisner Fraga: Também não faço ideia de quantas antologias contam com meus trabalhos. Sou desorganizado, neste sentido. Não guardo matérias em jornais, não faço inventários ou listas. Mas posso citar de cor algumas antologias de que participo: “Os cem menores contos do século”, organizada por Marcelino Freire; “Primos”, organizada por Tatiana Salém Levy; “Geração zero zero”, organizada por Nelson de Oliveira e a antologia da editora alemã Lettrétage, organizada pela pesquisadora Marlen Eckl e que será lançada na Feira de Frankfurt em 2013. A versão brasileira desta antologia será lançada pela Editora Faces, da Bia Willcox e do Zeca Fonseca. 

Ligados: Qual a sensação de ter sido homenageado no Concurso de Contos do Tijuco? 

Whisner Fraga: Foi uma das maiores emoções da minha vida. Não que eu seja vaidoso, é que a homenagem veio de minha cidade natal. Quando eu comecei a escrever, minha grande ambição literária era vencer o Concurso Luiz Vilela, não porque era o maior prêmio literário do país, mas porque era organizado pela minha cidade. Então fiquei cinco vezes entre os dez selecionados, sendo que uma vez fui o vencedor. Cada um desses cinco prêmios foi muito especial, mas nem se compara a ser homenageado com um concurso de contos. É um reconhecimento que me enche de satisfação, me dá um ânimo danado. 

Ligados: Projetos? 

Whisner Fraga: Estou escrevendo dois livros, um de minicontos e outro de contos. Ambos estão adiantados. O de minicontos tem até título: “Lúcifer e outros subprodutos do medo”. Gravei vários vídeos lendo esses pequenos textos e convidei amigos artistas para bolarem alguns também. Todos estão no youtube, qualquer um pode ir lá e conferir. Esses amigos são pessoas com um talento monstruoso, artistas que admiro muito pela ousadia formal e pelo desejo que têm de produzir algo novo. São eles: Edgar Franco, Daniela Lima e Carla Dias, por enquanto. Mas estou com outros nomes para convidar. 

Já o livro de contos não tem título ainda. Quer dizer, tem um provisório, que é “Algo tênue e dilacerado”. Essa obra foi concebida assim: são oito contos e todos narram a mesma história, sob o mesmo ponto de vista, que é o do narrador. A ideia é lançar o de minicontos em 2013 e este de contos em 2014, algo desse tipo. 

Depois, estou trabalhando numa ideia com a Daniela Lima. Será outro livro escrito a quatro mãos. Estamos na fase de discussão da trama. Desde que li o livro de estreia da Daniela, senti que teríamos de escrever algo juntos, pois ela tem um estilo muito forte e bem próximo ao que proponho. Temos a intenção de começar o livro ainda este ano. 

Perguntas rápidas: 
Autor(a): António Lobo Antunes; 
Ator(Atriz): Jeanne Moureau; 
Site: Concursos Literários;
Banda: Ira!; 
Música: La bohème; 
Filme: Encouraçado Potemkin. 

Links na internet: 

Links dos seus produtos nas lojas online: 
Saraiva: Aqui
Cultura: Aqui
Submarino: Aqui
Travessa: Aqui;
Ficções Editora: Aqui.

Ligados: Considerações finais. 

Whisner Fraga: Gostaria de agradecer a oportunidade de fazer esta entrevista e queria acrescentar que sempre estou disposto a dialogar com meus pares - então qualquer pessoa que quiser me mandar uma mensagem será muito bem-vinda. Responderei com prazer.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 21/09/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

Entrevista com o escritor Horácio Medeiros no Ligados FM

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O nosso convidado da vez é o escritor, professor e médico oncologista Horácio Medeiros. Aos 40 anos de idade, é autor do livro “Cameron e a viagem mitológica em busca da felicidade”, lançado em 2008 durante a Feira do Livro de Mossoró. Vale salientar que ele mesmo ilustra os seus textos de maneira impecável... Medeiros é natural de Caicó, e nos fala sobre literatura, desenho, vida pessoal e pretensões para o futuro nesta brilhante entrevista que nos cede.

O autor Horácio Medeiros

Ligados: Quem é Horácio Medeiros? 

Horácio Medeiros: Uma pessoa de origem simples que sempre sonhou em viver de arte e fazer medicina por prazer. Uma eterna criança que apesar do tempo passado, tem na cabeça muitas fantasias, as quais tenta transportar para o papel, seja desenhando ou escrevendo. Na verdade, devido à seriedade do trabalho que desenvolvo como médico oncologista e professor da universidade, poucos conhecem a figura por trás do profissional. 

Ligados: Quando e como começou a escrever? 

Horácio Medeiros: No colégio, já me destacava ao escrever meus textos, mas comecei a registrar minhas ideias de forma mais obsessiva na época de faculdade, quando resolvi escrever meu primeiro livro. Desde essa época, criei o hábito de registrar meus sonhos e ideias no que chamo de “livro dos sonhos”. É um livro que eu mesmo encadernei há muito tempo atrás e que me serve como uma espécie de registro para ideias, sonhos, fragmentos de coisas que leio e que vão surgindo no meu dia a dia. É muito prazeroso voltar e ler de vez em quando o que escrevi há 15 anos atrás e repaginar as ideias colocando no que produzo hoje. Descobri depois que esta é uma mania de muitos escritores. Essa minha mania de “construir livros” vem da minha vontade de possuir um atlas de anatomia quando fazia a oitava série. Já era apaixonado por ciências e tinha a mania de reunir tudo em livros. Tinha uma brochura de experimentos e ideias que ia reunindo de livros emprestados da biblioteca e dos amigos. Mas o ponto alto foi quando comecei a desenhar meu atlas de anatomia humana. Fiz uma encadernação com folhas de ofício e capa forrada com espuma e pedaços de uma velha calça jeans. Nele, ia reproduzindo os desenhos anatômicos de livros de ciências que ia encontrando pela frente. Ainda cheguei a desenhar algo quando entrei na faculdade de medicina. Ainda o guardo até hoje, já com suas páginas amarelinhas. 

Ligados: Em seu primeiro livro, nota-se uma rica variedade de enigmas e figuras mitológicas. Em que se baseia o seu estilo literário? Quando surgiu o interesse por este tipo de conteúdo? 

Horácio Medeiros: O primeiro livro que lembro ter lido foi o “Dicionário da Mitologia”, que me foi presenteado por uma tia. As histórias envolvendo deuses e humanos e depois sua relação com a história antiga que vi no colégio me envolveram e ainda hoje é uma das minhas melhores leituras. Meu contato com a maçonaria também me fez ter curiosidade sobre símbolos. Isso tudo na minha adolescência, em que tinha muito tempo e muita fome por conhecimento. Dessa forma, isso serviu como base para outras leituras. Leio sobre qualquer coisa sobre a qual tenho curiosidade. Recentemente, comecei a escrever sobre relógios e resolvi ler sobre a história da relojoaria. Fiquei entusiasmado com o que vi e encontrei. Outra coisa que sempre me fascinou foram pedras preciosas e a arte que as envolve. Na época em que escrevi o primeiro livro, estava iniciando minhas aulas de violino, algo que desejava desde a infância. Na verdade, escrevo sobre o que gosto. Cameron é isso: mitologia, símbolos, música. 

Ligados: Fale um pouco sobre “Cameron e a viagem mitológica em busca da felicidade”. 

Horácio Medeiros: Cameron foi o primeiro livro que resolvi publicar. Acho que como todo mundo, sempre tive muito receio do que escrevi. Ele nasceu da minha experiência dentro da maçonaria, aliado com a empolgação dos jogos de RPG que participei na época de faculdade. Para quem não sabe, RPG é um jogo de interpretação em que os jogadores incorporam personagens e se comportam como eles. Aquilo era fantástico. Eu jogava como um mago de dois metros de altura, cabelos loiros e olhos azuis “frios e hipnóticos”. Essa era a descrição do meu personagem. Vale salientar que só tenho 1,6 M de altura, olhos e cabelos castanhos. Ainda hoje encontro colegas de turma que jogavam comigo e lembram-se desta descrição. Cameron nasceu muito rápido e ficou pronto em uma ou duas tardes. O guardei na gaveta por pelo menos uns dez anos até resolver publicá-lo. Fala de um mago que usa de todo seu conhecimento de magia para criar um instrumento mágico que tem vida própria e que quando tocado, pode trazer a felicidade a quem houve. Na verdade tudo tem um pouco a ver com o que vivia naquele momento, inclusive as primeiras aulas de violino que comecei a tomar. Cameron constrói todo um templo coberto de espinhos onde o violino passa a morar. Com o passar do tempo, o violino vai perdendo suas cordas e cala-se para o mundo. Nascem quatro crianças marcadas pelo destino que quando crescidas, recebem a missão de restaurar as cordas do instrumento e para isso começam uma viagem simbólica de autoconhecimento aos quatro cantos do mundo, em busca de descobrir como restituir as cordas à “alma negra”, como Cameron chamava o violino. Foi a primeira idéia que resolvi colocar no papel e representou uma realização pessoal conseguir publicar. 

Fiz um pequeno evento dentro da Feira do Livro de Mossoró, encima do prédio da Estação das Artes Eliseu Ventania com violinistas e um cenário que eu mesmo construí com um altar central sobre o qual estava o violino de Cameron, cercado pelas personagens do livro. Foi realmente como ver um filho nascer. 

Ligados: Você mesmo ilustra os seus textos. O que te proporciona maior prazer: Desenhar ou escrever? 

Horácio Medeiros: Sim, eu mesmo faço minhas ilustrações. Sempre desejei trabalhar ilustrando livros infantis. Hoje descobri que é um setor altamente especializado e que meus desenhos não são muito comerciais. Então comecei a estudar aquarela, mas o doutorado que faço atualmente não tem deixado muito tempo. Sempre que estou escrevendo algo ou criando uma personagem, logo me vem à cabeça a sua forma e como ficaria no papel. Desenhar é uma coisa que me dá muito prazer e diversão. Esqueço o mundo e faço isso desde criança. As duas coisas me dão muito prazer, mas são prazeres diferentes. O escrever é mais recente e, portanto, é um divertimento mais maduro. Me sinto uma criança desenhando. 

Ligados: Qual o reconhecimento dos leitores a respeito do seu livro? 

Horácio Medeiros: Recebi críticas com as quais concordo. Todos gostam muito da estória e da ideia central do livro e principalmente dos seus desenhos, mas poderia ser maior com melhor desenvolvimento das situações e das personagens. Era uma criança quando o escrevi e sempre quis mantê-lo no mesmo formato. Dizia que o objetivo era ler o livro em uma tarde e que os desenhos complementariam o entendimento, deixando as lacunas para a imaginação do leitor. Hoje sei que não funciona bem assim. 

Na época em que o escrevi ainda não existia uma atenção tão grande dos leitores a este tipo de literatura envolvendo magia e símbolos com áurea da ficção que preenche as prateleiras das livrarias, como hoje. 

Ligados: Já recebeu críticas? Se sim, elas te ajudaram no amadurecimento literário? 

Horácio Medeiros: Sim, como disse, recebi críticas que foram bem vindas e hoje procuro aprender com elas quando resolvo escrever algo.

Ligados: Quais as suas pretensões a longo prazo? 

Horácio Medeiros: Publicar outros livros e me dedicar mais a isso. Tenho muitas ideias que eu gosto de chamar de originais e vários rascunhos iniciados e até alguns roteiros totalmente fechados com começo, meio e fim. Mas esta é uma fase de estudo. Estudo do mercado, estudo da arte do escrever. Não procuro apenas escrever por prazer, mas tornar comercial o que escrevo. Já descobri, por exemplo, que a ilustração do que se escreve torna seu manuscrito menos atraente para a maioria das editoras, que tem seus ilustradores premiados para tornar a obra mais comercial. Lembre que minha formação é médica e nunca tive formação para escrever, então busco isso hoje, e estudo formas de aprender sempre mais sobre o assunto. 

Ligados: Possui projetos no momento? 

Horácio Medeiros: Tenho sim. Estou terminando um manuscrito que dei o nome de “O coração do príncipe cigano”, e que inclusive pedi a opinião do Escritor Thiago Galdino, do ponto de vista de um mero leitor. Ainda falta muito trabalho no texto e concluir os últimos capítulos. Não sei se vou ilustrá-lo. Por enquanto, fiz apenas o desenho do “clave”, uma das personagens que é um pássaro mecânico com asas de chaves. Ele é uma chave mestra criada pelo mago Ganamir e que o príncipe Gorik recebe do aprendiz Almoxarir. A estória trás algumas ideias bem originais e o roteiro está bem firme. Tenho outros trabalhos como “Os sete demônios”, “O monstro dentro do médico” e “O mundo de Orion” este último, um livro infantil que também ilustrei. Pretendo participar de concursos literários que acontecem por todo o mundo e que acho que são uma grande oportunidade para quem está começando. No momento, estou totalmente envolvido com minha tese de doutorado, que está centrada em educação médica e baseada em uma estratégia de ensino que envolve fotografia e arte. 

Fui à Bienal do livro em São Paulo, agora em agosto, para conhecer melhor como funciona tudo que envolve criação, ilustração e publicação, na tentativa de profissionalizar mais o que por enquanto é só um hobby. 

Perguntas rápidas: 
Autor(a): Ariano Suassuna;
Ator(Atriz): Selton Mello;
Site: Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas; 
Banda: Pato Fu;
Música: Dust in the wind Kansas;
Filme: O violino vermelho – Francois Girard – 1998.

Links na internet:

Ligados: Considerações finais. 

Horácio Medeiros: Sempre acreditei em estudo. Tudo que pretendo fazer, procuro dar embasamento estudando. O problema é que no Brasil e em especial no Nordeste, não existem escolas de escritores, e quando se consegue algum crédito escrevendo, é com muito talento e originalidade daquilo que se produz. Minha vida acadêmica toda foi regrada pela tecnicidade da medicina. Minhas experiências são com textos e ilustrações técnicas. Essa abertura para o mundo da literatura infantojuvenil é uma das faces da bagagem que trago da minha educação básica e das leituras que explorei quando criança e que incentivo meus alunos a buscarem dentro da disciplina de Medicina e Arte, que coordeno dentro da universidade.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 07/09/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

segunda-feira, 10 de março de 2014

Mossoroense estreia no gênero policial

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Uma novela policial com direito a mensagens criptografadas, numerologia, contrabando de cédulas raras, investigação independente de dois garotos curiosos, ação policial e, finalmente, captura dos fora-da-lei. É isso que oferece a leitura do livro “Suspeitas de um mistério” (Multifoco, 2012), do estreante mossoroense Thiago Galdino, o qual se autodenomina “contador de histórias”. E, como reforço a esse mínimo autorretrato, sublinha que “somente o tempo dirá se o grau de escritor me cairá justo”. 

Dizer que “Suspeitas de um mistério” é um livro que se lê de uma assentada, não o isenta de reparos, mas salta à vista que o autor se desincumbiu satisfatoriamente da tarefa que se propôs de escrever um “thriller”, não obstante seus recursos limitados, quer literários, quer estilísticos, como a pobre caracterização dos personagens, a falta de uma padronização para marcar os diálogos, a mobilidade fácil demais dos personagens, as viagens mirabolantes etc. O importante, numa obra de estreia, é se mostrar capaz de conduzir a trama ao seu desfecho unindo as pontas soltas que foram deixadas pelo caminho. E isso Thiago Galdino mostrou saber fazer.

Na verdade, a trama segue um ritmo irregular, na medida em que seu clímax é postergado por descrições de caráter lateral, dispensáveis ao enredo do livro. Uma viagem a Boston a pretexto de tratar uma infecção bucal de um dos jovens “detetives” chega a ser inverossímil, ou melhor, desnecessária, pois o é. A própria viagem de avião em primeira classe para o sítio da tia Daura, numa ocasião em que esta passa por dificuldades financeiras é dessas situações em que só podemos exclamar: cadê o revisor desse livro? Porque o revisor não cuida apenas da correção ortográfica, mas precisa estar atento à coerência textual, a fim de que os lapsos do autor não passem para o texto final. E esse foi um trabalho que ficou por fazer.

Com efeito, uma frase como “Dezoito e meia” (referindo-se à hora) soa inteiramente artificial; do mesmo modo, é inaceitável que o livro apresente construções frasais do tipo: “contraste assombrador”, “o chefe daquele grupo era um brutamonte”, “então o porquê vocês estão chateados?”, “por que começará as aulas”, “deixei a parte que os cabiam”, dentre outras, que findam por desviar a atenção do leitor para questões gramaticais, afastando-o da trama propriamente dita. 

Quanto ao enredo em si, que peca pelo excesso de coincidências que se sucedem em seu curso, tem um elemento de modernidade inconteste: os enigmas que aí aparecem associados à criptografia, lição certamente aprendida na leitura do clássico “Um estudo em vermelho”, Conan Doyle, que desafia por algum tempo o cérebro privilegiado de Sherlock Holmes.

De fato, o “thriller”, a novela policial, gênero eminentemente anglo-saxão, não exerceu grande fascínio sobre os autores potiguares. A exceção, que confirma a regra, é a do cearense-potiguar Francisco Sobreira, cujo livro “Palavras manchadas de sangue” constitui uma bem-sucedida incursão nesse gênero. O enredo é ambientado na Natal dos anos 1980 e pontilhado de crimes que desafiam o pantagruélico e adiposo delegado Simões. Pena que o livro esteja esgotado há décadas sem que seu autor se decida a reeditá-lo. Mas não só esse, vez que a produção de Sobreira é fecunda especialmente no conto.

Enfim, “Suspeitas de um mistério” é mesmo um livro precoce, em muitos sentidos, precoce demais, haja vista que poderia ter passado por um trabalho de releitura e revisão de algumas situações dispensáveis aí presentes. Fica a certeza, porém, de que o autor, apesar de tão jovem ainda, tem inegáveis qualidades literárias. Assim, precisa cuidar do próximo livro “pra valer”, mas sem se deixar dominar pela pressa de publicar. Afinal, agora já tem “experiência”, e isso supõe profissionalismo e maturidade literária.


Autor: Nelson Patriota. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Entrevista com o escritor Henry Bugalho no Ligados FM

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O fotógrafo e escritor Henry Alfred Bugalho é graduado em Filosofia e Especialista em Literatura e História. Publicou até o momento quatro livros, incluindo o Best-selling “Guia Nova York para mãos de vaca”. Além de colaborar com alguns sites, é editor da revista eletrônica e independente “Samizdat”; é também um dos fundadores da Oficina Editora. Nascido em Curitiba, reside atualmente na Perugia, Itália.

O autor Henry Bugalho

Ligados: Como foi o seu início na Literatura? 

Henry Bugalho: Nem sempre desejei ser escritor, apesar de estar sempre vinculado às artes. Quando criança e adolescente, queria ser desenhista de Histórias em Quadrinhos, depois pianista. 

Tinha uns vinte anos quando comecei a pensar seriamente na escrita. Eu havia me casado, sem grana para transportar o piano para meu apartamento novo e, talvez para compensar, escrevi alguns contos e meu primeiro (e impublicável) romance. Então se tornou um vício, que nunca mais consegui largar. Descobri que eu era um escritor muito melhor do que jamais seria como pianista. 

Ligados: Quais livros não podem faltar em sua biblioteca? Existe algum autor que influencia a sua criação literária? 

Henry Bugalho: Tenho pouquíssimos livros físicos, depois de ter perdido toda a minha biblioteca (com primeiras edições e obras raras) na minha última mudança de Nova York para Buenos Aires, por isto, só leio livros digitais hoje em dia, que são milhares em meu computador. Há alguns autores e obras que leio sempre, como “Ficções” de Borges e “O Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa, além de Kafka e Dostoievsky, que são imprescindíveis. 

Já escrevi muito sob influências sazonais. Meu primeiro romance veio na cola da leitura de “Os Buddenbrooks” de Thomas Mann, e já me inspirei em James Joyce, Kazantzakis, Borges e Pessoa. Hoje em dia, creio que já encontrei uma incipiente voz própria, que se parece pouco com o que já li por aí, apesar de ter alguns vestígios de Henry Miller e Milan Kundera. Penso que as minhas influências maiores nem são literárias, mas filosóficas. Schopenhauer, Nietzsche, Bataille e Foucault sempre pairam sobre tudo que escrevo, inevitavelmente fazem parte da minha compreensão do mundo. 

Ligados: Entre os seus quatros livros publicados, há algum mais especial, ou cada um é único de alguma forma? Aproveitando, fale um pouco sobre as obras. 

Henry Bugalho: “O Canto do Peregrino” foi editado, mas nunca publicado ou distribuído, portanto é uma obra inédita. Tenho um enorme orgulho deste meu primeiro livro, um romance histórico sobre os imigrantes europeus no Brasil. É nele que fica evidente a minha paixão pela música e pelo piano, pois são quatro gerações de uma família de músicos e que enfrentam enormes dificuldades para realizarem suas ambições. 

“O Rei dos Judeus” é também um romance histórico, desta vez abordando a figura de Jesus, da maneira mais realista possível. Foi um livro que me tomou quase 10 anos de pesquisa e que mudou muito desde a primeira linha escrita até a versão final. Tive de reescrevê-lo quase completamente, porque sempre que encontrava novas evidências históricas, eu me sentia obrigado a alterá-lo. 

“O Covil dos Inocentes” é um romance de mistério noir, escrito totalmente num blog num intervalo de alguns meses. Fazia parte de uma fase na minha produção literária na qual eu pretendia explorar vários gêneros aos quais não estava habituado a escrever, como ficção científica, terror, mistério, romântico, suspense e assim por diante. 

Por fim, “O Homem Pós-Histórico” é uma novela sobre a própria humanidade, o que nos torna o que somos, e como somos guiados por nossos instintos mais primitivos. 

Posso dizer que todos estes romances pertencem a uma fase de destruição (incluindo o inédito “Cassandra”, sobre a Guerra de Tróia), na qual eu desconstruo tudo aquilo que já acreditei ou admirei, e questiono alguns aspectos de minha própria identidade. Se eu tivesse de escolher o melhor, diria que “O Canto do Peregrino” é o que mais se aproxima à ideia original, o mais bem realizado. 

Ligados: O seu “Guia Nova York para mãos de vaca” tem sido um grande sucesso desde que foi lançado. Esta grande procura, em sua opinião, se dá ao fato de no Brasil existir pouquíssimos Guias de Viagens, ou acontece pelo fato da obra poder ser facilmente conciliada com as dicas existentes no Blog? 

Henry Bugalho: Até que existem bastantes guias de viagens no Brasil. O diferencial do “Guia Nova York para Mãos de Vaca” deve-se a duas características, na minha opinião: 1 - é um guia de viagens escrito por um brasileiro para brasileiros; quando se trata de uma tradução, perde-se muito do contexto no qual a obra foi concebida e redigida e 2 - o guia é informal; trata-se de um bate-papo com o leitor, sem aquele tom de autoridade, são apenas recomendações minhas, um sujeito simples e normal, para outras pessoas como eu. Não sou o dono do conhecimento, nem pretendo ser. 

E também sei, através dos comentários dos próprios leitores, que o sucesso tanto do livro quanto do blog é porque ele é divertido e bem escrito. Neste sentido, há uma grande vantagem em ser um escritor literário, pois sei exatamente o que quero dizer e que sensação gostaria de causar no leitor. Eu não sou um viajante que escreve, sou um escritor que viaja. Isto faz muita diferença. 

Ligados: Ainda na Literatura, você é organizador e editor da Revista eletrônica e independe Samizdat. Qual o objetivo da mesma, além de divulgar novos nomes sem se prender ao capitalismo? A concepção da revista seria possível sem os benefícios da internet nos dias atuais? 

Henry Bugalho: Na Revista SAMIZDAT, não estamos combatendo o capitalismo, pelo menos este nunca foi um dos nossos ideais. 

Tentamos contornar o bloqueio da indústria cultural aos novos talentos, àqueles que tem muito a dizer e pouco espaço de expressão. Há tantos escritores bons escrevendo contos, poemas e crônicas e que jamais serão publicados pelas editoras ou pelos grandes jornais, mas que ainda assim merecem nossa atenção. 

Simplesmente não podemos fechar os olhos ao que está ocorrendo e, pelo que percebo, esta lentidão do mercado literário, esta incapacidade de assimilar o novo e o extraordinário, de se renovar, pode ser também a causa de sua própria ruína. Nos EUA, o negócio anda feio para as grandes editoras, que estão a um passo de serem engolidas pela Amazon e pela legião de autores autopublicados. Nossa época trará grandes mudanças para o cenário literário e a SAMIZDAT, além de outras revistas e portais literários, é parte deste processo de transformação. 

Ela seria possível sem a internet, pois revistas literárias não são um fenômeno contemporâneo, mesmo assim, seria muito diferente do que é hoje. A SAMIZDAT publica autores de língua portuguesa espalhados pelos quatro cantos do mundo, e isto seria muito difícil de ser feito sem a internet. 

Ligados: Tanto o seu livro “O covil dos inocentes” quanto o “Guia Nova York para mãos de vaca” estão disponíveis em versões e-books, porém, o romance pode ser baixado gratuitamente, enquanto que o Guia é comercializado. Por que isto acontece? 

Henry Bugalho: A lógica é muito simples: eu vendo o que pode ser vendido, e distribuo gratuitamente o que não pode ser vendido. 

Partimos do pressuposto que quem viaja ao exterior pode pagar uns 20 reais para comprar um guia de viagens, faz parte de um dos gastos necessários. Não preciso convencer ninguém a comprar meu guia; os leitores vem ao meu blog, leem as dicas, empolgam-se e compram o livro, depois espalham a notícia para seus amigos. O sucesso do www.maosdevaca.com é no boca-a-boca. 

Agora convencer alguém a comprar um romance de um autor desconhecido, isto sim é trabalho duro! Primeiro, porque os brasileiros não dão tanto valor à produção literária nacional, depois, porque eles preferem comprar os livros dos autores já consagrados. Se eu quiser criar um nome e conquistar um público para meus romances, para mim o caminho mais simples e óbvio é dando-lhes gratuitamente parte deste material para que eles possam ler e fazer seu próprio julgamento. 

Como escritor de ficção, meu maior prazer é ser lido. Todavia, o que paga as minhas contas e minhas viagens são os livros de não-ficção.

Ligados: Visitando e morando em outros países, que comparação você faz em relação ao hábito da leitura no exterior e no Brasil? 

Henry Bugalho: Além do Brasil, morei em três outros países, com mercados literários muito distintos. 

Nos EUA, há uma verdadeira indústria do livro, com um público leitor imenso que compra e consome literatura. Americano valoriza a cultura e está disposto a pagar por ela. É comum encontrar nos metrôs, parques e praças muita gente com livro ou leitores digitais. No entanto, é um povo que lê primordialmente autores americanos ou de língua inglesa, com pouquíssima abertura para traduções de autores estrangeiros. Há poucas, mas gigantescas livrarias. 

Na Argentina, também há um grande público leitor, com incontáveis livrarias e sebos espalhados por toda a cidade de Buenos Aires. Os argentinos leem muita ficção e possuem uma rica tradição de escritores de renome. Por outro lado, é um país empobrecido pela crise, em evidente processo de favelização, e não percebo um grande interesse das novas gerações pela Literatura. 

Já na Itália, há um bom público de leitores, com espaço para autores locais e estrangeiros e com um cenário literário de vanguarda em ebulição. Você vê na TV programas específicos sobre leitura e literatura, com recomendações de livros e há muitas livrarias grandes. Os italianos valorizam bastante a cultura e não poderia ser diferente vindo de um país com sua riquíssima História. 

Por fim, no Brasil, é aquilo que já sabemos: um mercado forte de auto-ajuda, esoterismo e religioso, uma idolatria pelos best-sellers internacionais e vendas pífias de autores brasileiros. Uma classe média que só agora está começando a criar hábitos de leituras, mas com livros caros e poucas livrarias. Ao contrário destes três casos anteriores, o Brasil não é um país de leitores, o que afeta diretamente qualquer um com pretensões de tornar-se um escritor profissional. 

Ligados: Descentralizando um pouco o andamento da nossa entrevista, poderia nos fornecer detalhes sobre os seus diversos Blogs? 

Henry Bugalho: Escrevo vários blogs com distintas abordagens: 

Viagens para Mãos de Vaca (www.maosdevaca.com) - com dicas de viagem econômica para vários destinos do mundo, como EUA, Argentina, Chile, Brasil, Itália, Espanha, França etc. 

Cala a Boca e Clica! (www.calabocaeclica.com) - onde ensino várias técnicas para quem deseja aprender a fotografar melhor, inclusive com um curso completo de introdução à fotografia. 

Revista SAMIZDAT (www.revistasamizdat.com) - uma revista literária digital gratuita, trazendo vários autores talentosos da novíssima geração literária em português, além de traduções ou obras de autores canônicos. 

Blog do Escritor (http://blogdoescritor.oficinaeditora.com) - com recomendações e técnicas para novos escritores, além de artigos e observações sobre o mercado literário e publicação independente. 

Há alguns outros, mas sem grande repercussão.

Ligados: Está com algum projeto em andamento? 

Henry Bugalho: Sempre, e vários! 

Estou trabalhando em três romances diferentes, um baseado na minha experiência residindo em Nova York e outro em Buenos Aires, além de um terceiro, experimental, reunindo vários gêneros literários numa mesma obra. 

Além disto, estou trabalhando em guias para mãos de vaca para outros destinos do mundo e preparando a terceira edição do guia de Nova York. 

Ligados: Que dica você deixa aos novos escritores? 

Henry Bugalho: Se ainda houver tempo, desista! 

No entanto, se escrever é o que você ama e não consegue se imaginar fazendo outra coisa, prepare-se, porque você será ignorado, rejeitado e criticado até cansar. 

No mundo da Literatura, não são os melhores que vencem, são aqueles que conseguem suportar as porradas e as rasteiras, os cascas-grossas que aguentam os trancos e barrancos da carreira. São estes que sobrevivem no final. Os muito delicados e sensíveis tombam no meio do caminho. 

Há um mito que os artistas são sentimentais, mas isto é conversa fiada; para ser um artista é preciso trajar suas armas e armaduras e preparar-se para uma guerra sem fim. 

Perguntas rápidas: 
Autor(a): Fernando Pessoa;
Ator(Atriz): Harrison Ford;
Site: Wikipedia; 
Banda: The Beatles;
Música: Sonata nº 8 em dó menor, op. 13 “Patética”, de Beethoven;
Filme: “Ladrões de Bicicleta”, de Vittorio de Sica.

Links na internet: 

Links dos seus produtos nas lojas online: 
Guia Nova York para mãos de vaca: Aqui;
Cala a boca e clica: Aqui;
Oficina Editora (Catálogo): Aqui.

Ligados: Considerações Finais. 

Henry Bugalho: Ainda não sei se aplaudo ou devo temer o futuro. Muito está mudando e muito ainda irá se transformar. 

Esta é a hora na qual os visionários se destacarão do rebanho e criarão seus próprios caminhos. É um tempo de incertezas, uma época de revolução. 

Antes, eu desejava ter nascido na Grécia Antiga, durante o Renascimento ou na década de 20, para ver as grandes transformações artísticas e culturais da humanidade, mas hoje tenho orgulho dos nossos tempos, e talvez os escritores que ainda virão nos olharão com inveja por termos podido presenciar todo o rebuliço que a era digital causou. 

Nada será igual, e aqueles que se encolherem diante do desconhecido ficarão para trás ou serão devorados. 

Este é o momento do mergulho no desconhecido.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 24/08/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

Entrevista com a escritora Lycia Barros no Ligados FM

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É a primeira vez que uma escritora cede uma entrevista ao Ligados, e para iniciarmos com chave de ouro, convidamos nada mais nada menos que a Lycia Barros. Formada em Letras pela UFRJ, a autora já lançou cinco livros em dois anos de escrita. Com tanta inspiração, criou o canal no Youtube "Papo Literário", onde dá dicas de literatura e entrevista autores nacionais. Além de Palestrante, Lycia também ministra cursos voltados para novos escritores. 

Livros da autora: “A bandeja”; “Entre a mente e o coração”; “Uma herança de amor”; “Tortura cor-de-rosa” e “A garota do outro lado da rua”.

A autora Lycia Barros

Ligados: Quando e como surgiu o interesse em se tornar escritora? 

Lycia Barros: Foi algo espontâneo. Comecei a escrever uma historinha para mim e, em seguida, compartilhei com minhas irmãs que gostaram e me incentivaram a continuar. 

Ligados: Quais autores te influenciam? 

Lycia Barros: Richard Matteson, Nora Roberts, Francine Rivers... e mais alguns que não estou lembrando agora. Em geral, autores de romance. 

Ligados: Você publicou, até o momento, cinco livros. Poderia nos fornecer detalhes sobre as obras? 

Lycia Barros: Os livros “A bandeja”, “Entre a mente e o coração” e “Uma herança de amor” são romances voltados para o público jovem/adulto. Já os livros “Tortura cor-de-rosa” e “A Garota do outro lado da rua” são livros voltados para o público juvenil, e que geralmente são mais finos por serem trabalhados em escolas no ensino fundamental. 

Ligados: Em geral, que mensagem você deseja passar nas estórias dos seus Romances? 

Lycia Barros: Acredito que o escritor, como figura pública, tem uma responsabilidade social de edificar o seu leitor de alguma forma, ao mesmo tempo que entretenha-o. Procuro trabalhar conceitos emocionais, os quais acredito que podem mudar a nossa vida para melhor. 

Ligados: Como tem sido o retorno do público em relação às suas obras? 

Lycia Barros: Excelente. Em sua grande e devastadora maioria não tenho do que me queixar. Achei o meu público e eles me acharam. Nada poderia ser melhor.

Ligados: Qual a sensação de ter sido apresentadora âncora na primeira edição do CODEX DE OURO? 

Lycia Barros: Foi uma grande honra para mim, embora também uma grande responsabilidade. Acredito muito na filosofia do prêmio e nas pessoas que estão por trás dele. Foi uma honra inaugurá-lo. 

Ligados: Atualmente estão surgindo diversos escritores no cenário literário nacional, e o que tenho percebido é que a maioria está mais interessada em publicar do que pela qualidade dos seus textos em si. Como você analisa esses aspectos? 

Lycia Barros: Há muito trabalho duro por trás de um livro. Aqueles que querem escrever somente para se promover fatalmente serão esquecidos antes de andar duas léguas. O escritor precisa se preparar e ter uma consultoria por trás para não naufragar antes mesmo de começar. 

Ligados: Para fins de divulgação, a internet tem te ajudado a atingir novos leitores, ou você acredita que ela torna-se mero objeto de entretenimento para os jovens? 

Lycia Barros: A internet foi, e continua sendo, fundamental para divulgação das minhas obras. Até isso o autor precisa estudar para saber como encontrar o seu leitor na web. Estou caminhando, ainda há muita coisa a ser explorada por mim. 

Ligados: Muitos acreditam que os famosos e-books irão substituir, pouco a pouco, os livros impressos. Você concorda com isso? 

Lycia Barros: Não. Pelo menos, não a curto prazo. O livro impresso ainda tem o seu charme, além da facilidade do manuseio. Acho que ainda estamos há muitas gerações de ele ser substituído, se é que irá mesmo acontecer. 

Ligados: Poderia nos falar um pouco a respeito dos Vlogs? Como surgiu essa ideia de criar um? 

Lycia Barros: Foi pura vontade de ajudar. Passei muitas dificuldades no começo de minha carreira por falta de conhecimento. Por isso, depois que aprendi algumas coisas, resolvi compartilhar minha trajetória. Afinal, o autor é um ser meio solitário, e essa foi uma forma de fazer novos amigos no ramo também. 

Ligados: Você, além de escrever bastante, possui o “Papo Literário” (Canal no Youtube), dá palestras e ainda ministra cursos de escrita. Como gerencia o seu tempo com família, trabalho e vida social? 

Lycia Barros: Só Deus sabe (Risos)... procuro conciliar meu trabalho com a vida pessoal sempre priorizando a família. Graças a Deus tenho o apoio de todos em casa, mesmo assim, todas as minhas viagens são com consentimento e apoio do meu marido. E isso é muito importante para mim. Atualmente, ministro muitos cursos online, o que resolveu em boa parte a questão do meu deslocamento constante. Bendita internet!

Ligados: Possui projetos em pauta? 

Lycia Barros: Sim, mas não posso falar deles agora. Até o final do ano todos irão saber, mas é algo que estou fazendo em parceria com o idealizador do CODEX DE OURO e que vai ajudar muito a literatura nacional. Fora isso, lançarei mais um livro antes do natal e darei cursos em vários estados neste semestre. 

Ligados: Que dica você daria àqueles que desejam se engajar na Literatura? 

Lycia Barros: Estude, crie rotina de escrita, e persista. Não é uma profissão fácil nem no Brasil, nem no mundo, mas para mim, é a mais recompensadora em um sentido global. 

Perguntas rápidas: 
Autor(a): Francine Revers;
Ator(Atriz): Henry Cavill;
Site: www.hugobreves.com.br;
Banda: Metronomy;
Música: The bay;
Filme: Tristão e Isolda.

Links na internet: 
Twitter: @lyciabarros;

Outros: Você pode encontrar todos os livros da autora nos sites do Submarino, Saraiva, Livraria Cultura, ou pode comprar um exemplar autografado direto na lojinha do site da autora emhttp://www.lyciabarros.com.br/blog/?p=247.

Ligados: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

Lycia Barros: Fico feliz de ver que há um grande movimento na web em prol de autores nacionais, e aplaudo de pé esse tipo de iniciativa. Muito obrigada pela oportunidade.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 10/08/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Entrevista com o escritor Thiago Gonzaga no Ligados FM

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Thiago Gonzaga nasceu no início dos anos 80 na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Considera como profissão a de pesquisador da Literatura norte-riograndense, embora consiga o seu sustento como Servidor Público Municipal, em prol de uma cidade mais limpa. É considerado um dos primeiros garis graduados em Letras do Brasil, algo bastante paradoxal, de fato. 

Amante da Literatura Potiguar, mantém um Blog chamado “101 Livros do RN”, onde divulga as obras de autores regionais; possui ainda uma biblioteca pessoal que já conta com mais de mil livros locais. É autor da obra “Nei Leandro de Castro - 50 anos de atividades literárias 1961-2011”, lançada em maio pela editora Sebo Vermelho, em conjunto com dois outros autores potiguares.

O autor Thiago Gonzaga

Ligados: Fale um pouco sobre você. 

Thiago Gonzaga: Sou um grande fã da Literatura Potiguar, que ama os nossos livros e escritores. Tenho uma biblioteca com mais de mil livros só com autores potiguares e sonho em me tornar um Crítico Literário. 

Ligados: Quando aconteceu o seu encontro com as Letras? 

Thiago Gonzaga: Sou de família muito humilde, filho de pais analfabetos; com cinco anos de idade perdi o meu pai, e minha mãe é empregada domestica, então tive que largar os estudos muito jovem ainda para ajudar na renda familiar. Até meus vinte e um anos de idade, eu era praticamente analfabeto, nunca tinha lido um livro, larguei os estudos no 3° ano do Ensino Fundamental. Só voltei a estudar depois do meu encontro com a Literatura Potiguar. 

Certo dia, já adulto, eu estava procurando emprego na rua e encontrei um jornal velho com uma crônica da Clotilde Tavares, escritora paraibana radicada em Natal. Aquela crônica me chamou a atenção, e ali aconteceu o meu primeiro contato com a Literatura Potiguar. Nesse mesmo período minha mãe, que era empregada domestica, ganhou da patroa alguns livros; trouxe para casa, e no meio deles encontrei alguns de Literatura Potiguar, com nomes como Câmara Cascudo e Manoel Onofre júnior. Ali definitivamente começou o meu amor pela Literatura Potiguar. 

Ligados: Recentemente você publicou o livro “Nei Leandro de Castro - 50 anos de atividades literárias 1961-2011”, em conjunto com dois outros autores. Fale um pouco sobre a obra e o que ela representa para você. 

Thiago Gonzaga: Esse livro é o resultado de um projeto que criamos para anualmente homenagear um escritor potiguar que tenha uma obra literária representativa para as nossas letras. Tenho dois amigos que me ajudam no blog, que é a Fátima Lima, estudante do curso de Letras, e o Luís Pereira, um amigo poeta que usa o pseudônimo de Chumbo Pinheiro. Convidei-os para me ajudar com o livro, já que me ajudam no blog com artigos, correções ortográficas, etc., dividimos as tarefas e o livro nasceu. A obra ficou muito bonita e é muito rica em informações e fotos sobre a obra do Nei Leandro; fiquei feliz com o lançamento, pois foi o meu primeiro livro lançado, porém ficamos mais felizes ainda com a contribuição que foi dada à Literatura Potiguar, pois o Nei Leandro estava comemorando cinquenta anos de atividades literárias e ninguém se lembrou disso, só a gente. Acredito que daqui a 50 ou 100 anos esse livro seja uma boa fonte de pesquisa sobre a obra dele.

Ligados: Como tem sido o reconhecimento do público a respeito do livro? A publicação mudou a sua visão do mercado literário norte-rio-grandense? 

Thiago Gonzaga: A receptividade tem sido muito boa, estou feliz com o resultado do livro, é uma obra que colabora com a Literatura Potiguar no sentido de ser uma fonte de pesquisa em relação à obra de Nei Leandro de Castro, já que até então não existia nenhuma. Quando comecei o trabalho de divulgação da Literatura Potiguar no Blog “101 livros do RN”, comecei a ter noção de como era difícil para um autor local publicar e vender livros aqui no estado. Infelizmente faltam políticas públicas que ajudem na divulgação e distribuição das obras, assim como um apoio maior com concursos e premiações, sem falar que existe um próprio preconceito da sociedade local em relação a nossa literatura, que não deve nada a de outros estados. 

Ligados: Dedica-se a outros gêneros literários? Se sim, em que autores você se inspira para a criação dos textos? 

Thiago Gonzaga: Na verdade eu sempre gostei da pesquisa, não me considero outra coisa a não ser pesquisador de obras locais; escrevo poesia, mas muito raramente. Na área da pesquisa, eu me inspiro no trabalho do Manoel Onofre Júnior, Tarcísio Gurgel, Humberto Hermenegildo e outros autores locais. 

Ligados: Ainda na Literatura, você toca um projeto de divulgação de autores potiguares chamado “101 Livros do RN que você precisa ler”. Quando surgiu essa ideia, e para você, o que falta para que as obras locais sejam mais exploradas? 

Thiago Gonzaga: Quando comecei a ler livros potiguares e frequentar sebos na cidade, senti a necessidade de conhecer mais da literatura potiguar e vi que a realidade do autor local era difícil, então cursei uma faculdade de Letras, e no período de quatro anos li milhares de livros locais. Quando me formei fundei o Blog “101 livros”, a fim de divulgar a literatura local para a nova geração que está surgindo e que usam a internet como fonte de pesquisa e estudos. No blog eu conto toda a história da Literatura Potiguar através de livros, dados de autores, curiosidades, textos, capas... Enfim, toda a literatura do RN em mais de 150 anos de história está sendo postada no blog diariamente. 

O que falta na literatura local são políticas públicas, ou até mesmo que se cumpram as leis que já existem, como a lei do livro, chamada também de Lei Henrique Castriciano, que propõe ao estado distribuir, publicar e apoiar os autores do RN.

Ligados: Você se considera um amante da poesia, fato que te fez vencedor do Prêmio Literário “O Trem da Minha vida” 2011, instituído pelo Curso de Letras da UnP e pelo PET literatura do Rio Grande do Norte. Conte-nos um pouco sobre essa premiação, e em especial, sobre o poema Bilhete de Suicida. 

Thiago Gonzaga: Eu gosto de ler poesia, mas não sou poeta (risos). Eu ganhei esse prêmio em 2011 e foi um momento feliz, pois fazia quase cinco anos que eu escrevia este poema “Bilhete de Suicida”, e ele sofreu várias modificações até chegar à forma ideal para concorrer. Mostrei ao meu amigo Chumbo Pinheiro e ele gostou, então escrevemos um livro juntos chamado Avenida Poesia, que pretendemos publicar num futuro próximo. O poema eu fiz em homenagem à escritora Clotilde Tavares, que foi quem me fez ter o primeiro contato com a literatura local, e é o título do primeiro livro lançado por ela. 

Ligados: Está envolvido em outros projetos literários? 

Thiago Gonzaga: Sim, estou já em andamento com o próximo projeto que é em homenagem ao poeta Diógenes da Cunha Lima e seus 45 anos de atividades literárias, além de outro trabalho chamado “Novos Ficcionistas Potiguares”. 

Ligados: Qual a dica que você deixa aos novos escritores? 

Thiago Gonzaga: Leiam bastante, aprimorem a escrita, a técnica, conheçam os clássicos, e se esforcem para fazer uma obra diferenciada. Com certeza terão o valor reconhecido. 

Perguntas rápidas: 
Autor (a): Vários do RN;
Ator (Atriz): Lenicio Queiroga;
Site: Substantivo Plural; 
Banda: Rosa de Pedra; 
Música: Linda Baby, de Pedrinho Mendes;
Filme: A vida é bela. 

Links na internet: 
Facebook: Thiago Gonzaga;

Ligados: Considerações finais. 

Thiago Gonzaga: Muito obrigado pelo espaço e vamos em frente, sempre em prol da Literatura e Cultura Potiguar. Recomendando que se cumpra o que esta na Lei Estadual: Literatura e Cultura do RN nas escolas já!


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 27/07/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com

Entrevista com o escritor João Paulo Hergesel no Ligados FM

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João Paulo Hergesel é o autor do livro de contos “Anilina, Ziguezague e Désirée”, pela Editora Patuá. Nasceu em 1992, no dia 25 de julho, que por coincidência é nacionalmente considerado o Dia do Escritor, em Sorocaba (interior de SP). Reside em Alumínio/SP e atualmente trabalha com revisão gramatical de livros e presta serviços editoriais (redação, tradução e afins), além de ser estudante universitário do último ano de Letras: Habilitação em Português e Inglês, pela Universidade de Sorocaba. Foi colunista de dois jornais locais e participou em diversas antologias, colecionando dezenas de prêmios literários, nacionais e internacionais.

O autor João Paulo Hergesel

Ligados: No momento atual, diversos jovens têm se interessado pela Literatura. Porque decidiu tornar-se escritor?

JP Hergesel: Não foi bem uma decisão, e sim um acaso. Desde muito novo, sempre gostei de viver em um mundo fantástico, imaginando coisas e acreditando na própria imaginação. Quando aprendi a ler e a escrever, fiquei não só imerso nas páginas dos livros infantojuvenis como também comecei a passar minha criatividade para o papel. Pode parecer até um pouco surpreendente, mas meu primeiro prêmio literário foi aos 9 anos, com um poema que escrevi sobre cidadania. Mesmo assim, até os 15 anos, eu jamais me imaginava na posição de escritor; escrevia apenas para desabafar o que sentia. Depois dessa época é que eu acabei me assumindo contista, cronista, romancista e o que mais se encaixar.

Ligados: Quais autores influenciam a sua produção literária?

JP Hergesel: Aprendi um pouquinho com cada autor que já li: desde a simplicidade de Ruth Rocha até a complexidade de Virginia Woolf. Mas os que mais se destacaram foram: Sérgio Klein, que inspirou minha criatividade; Clarice Lispector, que influenciou minha subjetividade; Adriana Lisboa, que me ensinou a tratar as palavras com a delicadeza que elas merecem; e Lygia Bojunga, cujo estilo foi o que mais me incentivou a brincar com a linguagem.

Ligados: Como foi o processo de criação de "Anilina, Ziguezague e Désirée", a sua primeira coletânea de contos juvenis?

JP Hergesel: Foi meio do nada. Eu estava com diversos contos voltados ao público infanto-juvenil, todos arquivados quietinhos na minha pasta pessoal do notebook. Resolvi, então, que juntaria todos em um único documento e tentaria a publicação, enviando o original a diversas editoras — na época, enviei não só o livro de contos como também um romance juvenil, para o qual ainda não consegui patrocínio para publicação. "Anilina, Ziguezague e Désirée", no original, chamava-se "Vintium". Tinha esse nome por soar bastante lúdico e porque o livro continha vinte e um contos. A editora, quando aprovou o original, no entanto, sugeriu alguns cortes e o livro passou a ter apenas quatorze contos. Em consequência disso, o livro foi batizado com o nome de um dos contos.

Ligados: O seu livro foi lançado pela editora paulista Patuá. Como você visa o mercado editorial brasileiro e como foi o processo de ir atrás de uma publicação?

JP Hergesel: A Patuá foi um presente que caiu do céu. O mercado editorial brasileiro, infelizmente, está mais focado no lucro do que na qualidade. Então, a maioria das editoras já consagradas dá preferência a escritores internacionais e autores de best-sellers, limitando o espaço editorial e impedindo que novos autores se destaquem. A Patuá, em contraponto, está mais preocupada em dar oportunidade a esses jovens talentos da literatura e tem feito um lindo trabalho, publicando livros com alto teor estilístico e literário. A Patuá me ajudou a perceber que muitas das recusas que ouvi de editoras “grandes” não se deram ao fato de que minha escrita era supostamente precária, mas porque meu nome era desconhecido. Pode parecer até absurdo, mas já cheguei a ter o original recusado sem mesmo ter sido lido: utilizaram minha (pouca) idade como critério de avaliação — e não foi uma única vez. Portanto, só tenho a agradecer aos meus queridos editores, Eduardo Lacerda e Aline Rocha, que, mesmo não me conhecendo, acreditaram no meu talento e apostaram no meu trabalho. Se hoje tenho um livro impresso publicado, devo isso ao carinho deles.

Ligados: O que você sentiu ao receber os primeiros exemplares físicos do seu livro?

JP Hergesel: Foi uma coisa muito louca. Na verdade, a ansiedade maior não foi tanto com relação aos exemplares físicos, e sim com a questão da capa. Todos os dias, meu fígado se corroía de curiosidade para saber como ficaria a capa do livro. Eu não conhecia o Jozz, o designer, mas vi, pelo portfólio dele, que fazia um excelente trabalho. Sabia que meu livro estava em boas mãos, mas ainda assim contava os segundos para ver a capa pronta. Quando o Eduardo e a Aline (editores) me mandaram o resultado, tive o maior encanto da minha vida: o gato anil olhando o novelo que fazia ziguezague se tornou minha imagem preferida. Tive a certeza: o Jozz havia se superado! Depois disso, ainda demorou um tempinho para que todo o resto ficasse pronto (a diagramação, a parte gráfica, etc.), então só recebi os primeiros exemplares no dia do lançamento. E foi de uma maneira bastante inusitada: eu estava passando em frente ao supermercado e, surpreendentemente, esbarrei com o Eduardo e com a Aline por lá; eles haviam acabado de chegar de São Paulo para a noite de lançamento (que seria em Alumínio). No mesmo momento, o Eduardo buscou os exemplares que estavam no carro e deixou em minhas mãos. Foi a primeira vez que carreguei meu filho no colo.

Ligados: Fale um pouco sobre a sua obra.

JP Hergesel: São 104 páginas de louqueira e feliversão (loucura com doideira e felicidade com diversão). São 14 contos juvenis que tentam agradar jovens de todas as idades, e não apenas o público adolescente. Há histórias narradas em primeira pessoa, em terceira, em drama, tem histórias de pura fantasia e até de ficção realista. É a mistura de um pouquinho de cada coisa, um verdadeiro ziguezague na imaginação. E o estilo é cheio de bom humor. Mas o que chama mais atenção mesmo é o título: Anilina, Ziguezague e Désirée. Sempre me perguntam o motivo. Aproveito, então, para contar: esse é o título de um dos contos do livro, em que a personagem principal diz que essas três palavras são suas preferidas. Além disso, é possível fazer uma interpretação semiótica do nome: anilina porque os contos servem para colorir a imaginação do leitor; ziguezague porque o tema dos contos segue a linha do vaivém; e Désirée, que em francês significa “o desejado”, para mostrar o livro como objeto de desejo do leitor. Tudo isso pode ser percebido na capa, confeccionada pelo Jozz: o gato tingido de anilina olhando desejosamente para o novelo que faz ziguezague no chão.

Ligados: Como tem sido o reconhecimento do público a respeito do seu trabalho?

JP Hergesel: Dizem que gostam, e eu acredito. Mas confesso que, às vezes, recebo tanto elogio que fico até desconfiado. Acho maluquice alguém receber elogios em número tão maior do que críticas. Só sei que o entusiasmo é grande, e a surpresa ocasionada pelas histórias que me contam sobre a influência dos meus textos é ainda maior. Uma amiga disse, poucos dias depois do lançamento do livro, que a irmã dela não dormia antes de ouvir o último conto do livro: A Bússola Mágica. É uma metáfora da vida real, sobre um menino triste que sai em busca da felicidade, mas não consegue encontrá-la em nenhum lugar onde procura. É um dos contos mais aplaudidos, mas sou obrigado a admitir que está longe de ser o meu preferido (tanto que quis até cortar do livro, mas os editores não deixaram). Outra história bacana foi uma contada pela minha professora de literatura inglesa e norte-americana. Segundo ela, estava na fila do teatro quando resolveu começar a leitura do livro e começou a rir sozinha com o primeiro conto: Ted. Este conta a história de um garoto que se sente esquisito por ter um nome diferente e ser zombado com trava línguas até em inglês. Cá entre nós, acho que esse é meu conto preferido do livro. Tenho um carinho enorme por ele, tanto que foi o mais bem trabalhado na hora da produção.

Ligados: Ainda na escrita, você participa frequentemente de concursos literários. Tem ideia de quantos prêmios já ganhou e quais os que possui maior apreço?

JP Hergesel: Até minha última contagem, foram pouco mais de cinquenta prêmios. Pode parecer um número bem alto, se levarmos em consideração meus 19 anos de idade, mas, como sempre dizem que quantidade não é qualidade, prefiro não me gabar. Sou grato por todos e tenho uma estima muito grande por cada um deles. Mesmo assim, é óbvio que há aqueles com os quais eu gostaria de dormir abraçado todas as noites. Posso destacar como exemplo: o Cancioneiro Poético, realizado pelo Instituto Piaget de Portugal, que foi meu primeiro prêmio internacional; o Mapa Cultural Paulista, realizado pela Secretaria de Cultura de São Paulo, no qual fui selecionado para representar Alumínio e a região sorocabana; o Desafio dos Escritores, realizado pelo Núcleo de Artes da Câmara dos Deputados em Brasília, do qual recebi até convite para ser jurado; e o clássico Concurso Literário da Uniso, em que fui finalista antes mesmo de fazer parte do corpo discente da universidade.

Ligados: Você foi colunista de dois jornais locais, contribuindo com diversos textos como Crônicas, Contos, Resenhas e Artigos. Como foi essa experiência?

JP Hergesel: Foi uma experiência bastante válida e, algumas vezes, desafiadora. Em abril de 2009, o Jornal de Alumínio Regional, jornal de maior circulação da cidade, chegou até mim e fez o convite para que eu passasse a escrever quinzenalmente para eles. Adorei a ideia de ser lido por toda a população da cidade e até mesmo das cidades vizinhas por onde o jornal circula. Tive meu trabalho amplamente divulgado e ganhei alguns fãs (risos). Em julho de 2010, a Gazeta de Alumínio, outro jornal do município, também passou a publicar meus textos — foi outra surpresa para mim. Hoje, infelizmente, já não contribuo com o mesmo gás de antes, devido às obrigações universitárias e à monografia de conclusão de curso. Acabo tendo tempo somente para escrever textos acadêmicos e fico sem inspiração literária para manter a periodicidade dos jornais. Mas só tenho a agradecer a ambos os jornais pela excelente oportunidade que me deram e que, com certeza, também foram responsáveis pelo amadurecimento da minha escrita.

Ligados: Atualmente você trabalha como Revisor Freelance. Em sua opinião, qual a importância desse tipo de profissional na vida de um escritor?

JP Hergesel: O escritor vive em fluxo de consciência e, por isso, acaba despejando tantas ideias no papel que não sobra tempo para dedicar-se às questões de pontuação, concordância, regência e ortografia. Ainda que o escritor tenha um ótimo conhecimento da gramática, os erros passam despercebidos, mesmo após várias leituras. É então que entra o revisor. O revisor é o responsável pelo acabamento do texto: se o livro fosse um prédio em construção, o revisor seria aquele profissional que passa a massa corrida e tapa os buracos e corrige as imperfeições antes da finalização da obra. Trabalhei como revisor freelance para a Editora Espaço Idea em 2010, mas não tive a oportunidade de dedicar muito tempo a esse ofício, visto que fui contratado pela prefeitura para trabalhar na área da educação. No início deste ano, no entanto, resolvi me aventurar piamente nesse ramo e montei uma empresa prestadora de serviços editoriais: a Jogo de Palavras. Hoje, exerço a função de revisor não apenas para editoras como também para pessoas físicas (autores independentes e outros profissionais que necessitam do trabalho de correção ortográfica) e amo ter a gramática como minha sócia.

Ligados: Como você equilibra o seu tempo, já que tem que dividi-lo entre Vida Social e Profissional?

JP Hergesel: Acordo e vou para o computador, responder e-mails dos colegas da faculdade e terminar alguma pesquisa ou escrever algum ensaio. Depois saio para almoçar e volto para o computador, fazer contato com editoras e autores e dar continuidade em alguma revisão. Então saio para comer alguma coisa e vou para a faculdade, dedicar um pouco mais de tempo às línguas portuguesa e inglesa. Chego no fim da noite e vou direto para a cama, sonhar que tenho uma vida social. No fundo, agradeço por existir Facebook.

Ligados: Fale um pouco sobre os seus novos projetos.

JP Hergesel: Devia ser segredo, mas estou com dois livros infantis prontos. Só não corro atrás de publicação ainda, porque pretendo insistir nos concursos literários. Se até o fim do ano nada der certo, as editoras que aguardem meus originais em 2013. Também estou com intenção de transformar minha monografia sobre estilística cibernética em um livro didático ou acadêmico (ideia do meu orientador), então suponho que levarei até o fim do ano para concluí-la. Quanto à produção literária no momento, só posso dizer que estou em fase de hiato, uma pausa na carreira, para dedicar-me exclusivamente ao contexto acadêmico. Mas pretendo iniciar, logo que as coisas se acalmarem, algum romance juvenil ou até mesmo um livro de crônicas. Fora isso, semestre que vem, estarei em alguma peça de teatro experimental — como já é meu costume em todo semestre (risos).

Ligados: Você possui dois Blogs literários de maior reconhecimento, o Joaninha Platinada e o Com a Palavra JP. Qual o objetivo dos mesmos e para quais tipos de leitores eles são direcionados?

JP Hergesel: O Joaninha é um blog dedicado aos amantes da literatura infantojuvenil e informações relacionadas; o Com a Palavra JP, por outro lado, é o blog onde posto meus textos, especialmente os que são publicados nos jornais. Ambos os blogs são abertos a todo tipo de público e são livres para receber quaisquer tipos de comentários.

Ligados: Por já possuir experiência, qual a dica que você deixa para os novos autores?

JP Hergesel: Esses dias, escrevi um ensaio sobre novos autores. Nele, ressaltei a existência de inúmeros autores jovens e mencionei a importância da internet para o desenvolvimento cognitivo do escritor. O espaço cibernético permite diversas leituras de diversos mundos em questão de cliques. A dica, então, é esta: continuem navegando, continuem lendo e, consequentemente, aprendendo. Criem blogs, páginas virtuais, divulguem seus escritos, peçam dicas e, principalmente, participem de oficinas literárias. Há várias oficinas de escrita criativa on-line que permitem que o escritor tenha acesso a comentários (sinceros) de profissionais da área de Letras. Eu mesmo não imagino como seria, se não tivesse participado incansavelmente dessas oficinas e, simultaneamente, de concursos literários.

Perguntas rápidas:
Autor(a): Adriana Lisboa;
Ator(Atriz): Felicity Huffman;
Site: Facebook;
Banda: La Oreja de Van Gogh;
Música: Aquarela (Toquinho);
Filme: Letra e Música.

Links na internet:

Links dos seus produtos nas lojas online:
Cultura: Aqui;
Patuá: Aqui.

Ligados: Deseja encerrar com mais algum comentário?

JP Hergesel: Quero agradecer à Equipe Ligados, em especial ao Thiago Jefferson, que me convidou para esta entrevista tão interessante. E, é claro, não posso deixar de agradecer a você, leitor, por ter acompanhado este bate-papo até o fim e conhecido um pouco mais sobre minha vida. Faço, inclusive, o convite para que todos vocês continuem acompanhando meu trabalho, já que a vida de todo escritor é, coincidentemente, um livro aberto.


Autor: Thiago Jefferson - Criação: 13/07/2012 - Objetivo: www.ligadosfm.com